Terras do Sertão [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento
O povoamento do interior do Nordeste se deu principalmente com a ocupação da terra pela criação de gado. E foi assim no Sertão de Pernambuco, não fugindo à regra. Aquela região era um mundo de terras para se conquistar e de todas as partes vinha gente em busca de uma fatia. Naturalmente tudo aquilo já tinha seus donos naturais, ou seja, as várias tribos indígenas que existiam em Pernambuco muito antes do homem branco chegar. E com eles não havia negociação. O índio, de forma geral, era tratado como “elemento invasor”, em evidente injustiça, já que o verdadeiro agente nocivo, causador da quebra daquele equilíbrio natural era o branco, que chegou armado, dando poucas chances de sobrevivência aos verdadeiros donos da terra. Não são poucos os relatos, registrados na história, de afronta e espoliação aos Xukurus, Paratiós, Carnijós, dentre várias outras tribos. Aqui se pode entrar numa enorme questão ideológica, mas, seja como for, não se pode negar que o homem branco ganhava toda a terra, dada a ele por quem não era dono legítimo, embora o fosse perante a justiça (do homem branco, vale ressaltar).
Antes de 1738, as terras encravadas naquele então imenso deserto eram medidas de forma muito precária, a qualidade das medições das distâncias entres as propriedades rurais, povoações, etc, eram do mesmo quilate. Tudo era pelo “ouvi dizer” e, quando muito, anotadas em cartas de sesmarias, mas sempre com pouca precisão. Mas foi a partir daquele ano que o governador Henrique Luís Pereira mandou confeccionar os roteiros dos caminhos então existentes na Capitania de Pernambuco, marcando os diversos sítios já antes ocupados e batizados por seus primitivos proprietários. Destes, destacamos o caminho do Ipojuca, transcrito por Nelson Barbalho no volume 7 da Cronologia Pernambucana [BARBALHO, 1983, p. 172]. O roteiro começa em Recife, passa por várias localidades onde hoje se encontram os municípios de Gravatá, Bezerros, Caruaru, Belo Jardim e vários outros do Agreste e Sertão e morre na Matriz do Cabrobó.
A primeira localidade a aparecer na área municipal da atual Pesqueira é Curralinho, a 47 léguas distante do ponto inicial em Recife. A paragem era uma das propriedades fundadas pelo capitão Antônio Vieira de Melo, conforme informação de Nelson Barbalho (ob. cit., p. 176).

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Está claro que as áreas mais movimentadas ficavam junto à água corrente. Nas aludidas negociações, se pararmos para analisar, sempre aparece algum rio: Pajeú, Moxotó e Ipojuca, este último nascente na sesmaria que fora de Fernandes Vieira, na serra do Ararobá, em território depois pertencente ao município de Cimbres e hoje encravada em área do município de Arcoverde. Tais terras deviam ser mais caras e mais procuradas. O motivo é evidente, pois a água era fundamental para a lavoura, criação do gado e, também, para a estruturação dos sítios fundados.
A própria Pesqueira, objeto e razão deste presente estudo, embora tenha seu núcleo alguns quilômetros distante do importante rio Ipojuca, nasceu entre dois importantes riachos: Baixa Grande, que desde da serra do Ararobá e corre por sua base, e Salgado, que corre por trás do primitivo núcleo, deixando a sede da fazenda no centro. Assim, na fazenda, corria água no terreiro e no quintal. Os dois riachos, junto com o Santana, de maior volume d’água, se juntam ali perto, nos mesmos domínios, formando o Ipaneminha.
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Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito Pesqueira de 1800. 
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