Categoria: Livro Pesqueira de 1800

Pesqueira de 1800 – A fazenda, o fundador e sua gente.

Marcelo O. do Nascimento
Depois de cinco anos organizando fontes e fazendo anotações, chega ao fim o trabalho que resultou no livro Pesqueira de 1800 – A fazenda, o fundador e sua gente. Essa é uma obra diferente das anteriores, é a primeira na qual falo da história de Pesqueira de uma forma linear, começando com a povoação de parte do sertão, incluindo a área da fazenda Jeritacó, de Pantaleão de Siqueira Barbosa, passando pelo surgimento da fazenda Pesqueira, de Manuel José de Siqueira (filho de Pantaleão), até chegar a sua elevação a vila e sede do município de Cimbres.
Até agora foi o trabalho mais difícil de ser feito, devido principalmente à falta de fontes primárias. No entanto, bons ventos vindos dos Estados Unidos salvaram a pesquisa, impressionantemente. Os ventos vindos daquele país chegaram na forma do acervo digital da Universidade da Flórida, de onde consegui extrair muitas informações até agora desconhecidas sobre Pesqueira e sua rival, a fazenda Poço dos Patos. São capítulos que renderiam facilmente uma novela, nos quais se vê guerras políticas, tragédias familiares, torturas e assassinatos. Aqui se revela um passado pesqueirense violento e sem esperança, mas que, como de praxe, nos dá grandes lições.

Na verdade, o livro é fruto de um trabalho de leitura e pesquisa iniciados muitos anos atrás, mas que só há pouco tempo foi ganhando corpo até chegar ao que agora se apresenta. Sabemos que é apenas uma pequena parte da grande história de Pesqueira, mas ficamos com a expectativa de que seja um passo para uma caminhada muito maior.
O livro contem 308 páginas, conta com fotografias e está a venda pelo site do Clube de Autores, no link abaixo.

Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

A Estrada [fragmento]


[…] por volta de 1800, Manuel José de Siqueira já tinha um cargo significativo em Cimbres, que, como única sede de município na região, funcionava como uma espécie de capital regional. E ainda era ativo no Moxotó, sendo capitão comandante daquela região subordinada à vila. Foi ele, como titular do posto em 1802, que ajudou o capitão Custódio Moreira dos Santos nos reparos do caminho das boiadas, que muitos anos depois serviu de guia para a atual rodovia BR-232 [BARBALHO, 1977, p. 84] e foi de fundamental importância para o desenvolvimento do interior de Pernambuco, ligando o litoral a Cabrobó, no Sertão. Em ofício enviado pela Junta Governativa da Capitania de Pernambuco a Siqueira naquele ano, demonstra que ele era capitão da ribeira do Moxotó e Ararobá. Era uma resposta ao comandante, que tinha mandado carta com informações de sua ajuda ao capitão Custódio nas obras da estrada real. O curioso documento, constante nos Documentos do Arquivo – Vols. IV e V e transcrito por Ulysses Lins de Albuquerque em Um Sertanejo e o Sertão entre as páginas 84 e 85 (Livraria José Olympio Editora, 2ª edição, 1976), apresenta-se da seguinte forma (com ortografia da época):
Fomos entregues da Carta de VM, de 9 do corrente, relativa ao negócio da factura das Estradas e Curraes da q. inspeção se acha por nós encarregado Custódio Moreira dos Santos, estendendo Nós aos justos motivos q. VM nos representa da grande seca que se experimenta nesses certoens esperamos de VM, que logo que o tempo for mais favorável ponha em execução a factura das Estradas e Curraes que se puderem adoptar em todo o Seu destrito na forma determinada pelo dito Inspetor, por ser um objecto muito importante ao R. I. Serviço, e ao público. Esperamos do zelo, e actividade e honra com que VM se deve empregar nas funçoens do seu Posto assim o execute para deste modo termos occazions de o louvar. – D. Ge. a VM. R. e 15 de Sbro. De 1802. – Pedro Sheverim. Men. X.er Carnº da Cunha – José Joaquim Nabuco de Aº – (ao) Com. e da Rib.a do Arobá, e Moxotó. [ALBUQUERQUE, 1976, pp. 84-85]

A carta enviada por Siqueira para o governo certamente era para se divulgar na capital, obtendo mais prestígio e força para o seu nome. O fato é que a então nova estrada abriu novos meios para o desenvolvimento da região, embora aquela importantíssima obra, bem como o seu principal executor, o capitão Custódio Moreira dos Santos, estejam hoje inteiramente esquecidos.

Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito “Pesqueira de 1800”. Como tal, contém trechos suprimidos e resumidos.
Quando da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.


Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

Casamentos em Jenipapo – parte 3 [fragmento]


O terceiro casamento, de Francisco Xavier Paes de Melo Barreto com Ana Vitória (filha do capitão-mor Coelho), mais tarde resultaria em brigas, desavenças e tragédias na família, mas ocorreu em 1814 com muita festa, talvez a maior que já se viu por essas paragens, conforme descreve Nelson Barbalho:
Ao que se diz, o casamento de FRANCISCO XAVIER PAIS DE MELO BARRETO com ANA VITÓRIA COELHO DOS SANTOS era festa de três dias de duração, realizada no Solar de Jenipapo e movimentada por centenas de pessoas das mais diferentes categorias sociais, com bebidas finas importadas da Europa, comidas variadas e em tamanha quantidade de causar espanto entre os convivas menos avisados. O capitão-mor SANTOS COELHO, satisfeitíssimo com o casamento da “menina caçula” com um moço fidalgo de alta linhagem, não olhava despesas efetivadas com o notável acontecimento social de todo o Agreste e Sertão da Capitania de Pernambuco. [BARBALHO, 1983, p. 156] (grifos do autor)
Para Barbalho, tal casamento ocorreu em 1814, provavelmente no mês de maio. Ele não cita fonte, mas é bem provável, pois esse sempre foi o tradicional “mês das noivas”. Também não encontro a fonte que o autor usou para detalhar a festa de casamento, mas, sobre o ano de 1814, é bem provável que esteja correto. O livro de matrimônios mais antigo que restou na paróquia de Cimbres é de 1816 e nele não consta o registro do casamento. E nem poderia, pois a filha mais velha do casal Xavier e Ana Vitória, a menina Teresa Sofia, tinha 15 anos em 1830 [MACIEL, 1980, p. 174], tendo nascido, portanto, em 1815, antes, evidente, do fato ter ocorrido.
Deste enlace, nasceu Francisco Xavier Paes Barreto, que, mais tarde, se tornaria o conselheiro Paes Barreto, juiz, comandante da Marinha do Brasil durante o Segundo Reinado, ministro das relações exteriores e senador do Império.
Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito “Pesqueira de 1800”. Como tal, contém trechos suprimidos e resumidos.
Quando da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.


Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

Casamentos em Jenipapo – parte 2 [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento

No mesmo livro onde se registrou o matrimônio de Siqueira e Clara estariam registrados os casamentos de Domingos de Souza Leão e Tereza de Jesus Coelho dos Santos e de Francisco Xavier Paes de Melo Barreto e Ana Vitória Coelho dos Santos.

O enlace de Souza Leão com Tereza de Jesus, conforme conta Nelson Barbalho, ocorreu em 1810. [BARBALHO, 1977, pp. 127-128]:
Tenente-coronel Domingos de Souza Leão, moço de fino trato, natural de Olinda, descendia em linha reta da Casa do Moreno, em Rãs, Portugal, ou, mais especificamente, da nobre família Souza Leão, do Porto. Na casa-grande da Fazenda Jenipapo, aos 13 de novembro de 1810, com festividades de dois dias de duração, casa com a jovem Tereza de Jesus Coelho dos Santos, fixando residência ali mesmo, a pedido da sogra, aliás. Dentro de pouco tempo se torna um dos influentesdo Urubá, vereador, político, presidente do Senado da Câmara de Cimbres, seu juiz ordinário. (grifos do autor)
O novo casal, mais tarde, seria os pais de Domingos de Souza Leão Jr., o barão de Vila Bela, importante figura na história de Pernambuco. Como antes falamos, o livro de matrimônio está desaparecido e Barbalho não cita a fonte da qual teria tirado a data exata do casamento, mas é provável que tenha se baseado em nota (já citada) do Diário de Pernambuco do ano de 1878 sobre a morte de Tereza de Jesus Coelho de Souza Leão (esse era seu nome de casada), em cujo trecho encontramos:
Em 13 de novembro de 1810, tendo 20 anos de idade nessa quadra em que a vida se povoa das mais encantadas visões, casou com o tenente-coronel Domingos de Souza Leão []
Também não sabemos de onde veio a informação das “festividades de dois dias de duração”.
[CONTINUA…]
Bibliografia
BARBALHO, Nelson, Caboclos do Urubá,  1977.

 Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito “Pesqueira de 1800”. Como tal, contém trechos suprimidos e resumidos.
Quando da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.


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Casamentos em Jenipapo: Parte 1 [fragmento]

Foto: Renato Julião

Antônio dos Santos Coelho da Silva era o rico proprietário da fazenda Jenipapo, hoje pertencente ao município de Sanharó. Muitos o apontam como um dos homens mais ricos de Pernambuco em sua época. E não era por acaso, pois ele não se acomodou quando herdou sua imensa propriedade de terras de criar. Na verdade foi ele quem transformou essas terras numa máquina de construir riquezas. Segundo Nelson Barbalho, ele “havia chegado a Pernambuco de mãos abandonando, pobre de Job, sem eira nem beira” e “trabalhando de sol a sol, economizando muito, gastando pouco, tornara-se, depois de algum tempo, o homem mais rico da região” (1).

Como não teve filhos varões, mas moças apenas, sua casa tornou-se assim um atalho para o poder e para a riqueza, trilhado por homens de todas as partes de Pernambuco.
A filha mais velha do casal Antônio dos Santos Coelho da Silva e Tereza de Jesus Leite era Clara Coelho dos Santos. Ela foi a primeira a se casar e seu pretendente era Manuel José de Siqueira, da fazenda Jeritacó, filho de Pantaleão de Siqueira Barbosa, português tão citado na historiografia local.
Não se sabe exatamente em que ano e lugar ocorreu o casamento dele com Clara. Em 1802 foi quando nasceu o primeiro filho do casal, a menina Ana Clara Coelho de Siqueira, assim o casamento certamente é de data anterior (2). Em todos os trabalhos que se lê sobre a história de Pesqueira, encontra-se sua fundação como ocorrida em 1800 e tendo Siqueira como fundador. A confirmação dessa informação poderia ajudar a elucidar o capítulo do casamento, já que Pesqueira foi construída em terra recebida como dote, não havendo dúvida sobre isso. Quem confirma a informação do dote e, ao mesmo tempo questiona a data da fundação de Pesqueira, é Augusto Duque, no seu trabalho já citado: Documento Sobre o Agreste, de 1947. Segundo ele, na página 14 daquela publicação, o “sítio Pesqueiro” foi dado a Siqueira em 1801. Assim,é provável que o casamento tenha sido naquele ano ou pouco antes. Sobre o lugar da celebração, o mais provável é que tenha sido em Cimbres, pois naquela data a fazenda Jenipapo ainda não tinha capela, a não ser que a celebração tenha ocorrido na casa-grande, como também era comum na época.


Marcelo O. do Nascimento

Bibliografia
1: BARBALHO, Nelson, Cronologia Pernambucana – Vol. 9, p. 240.
2: NASCIMENTO, Marcelo O. do, Pesqueira Histórica – Vol. 2, p. 40.
Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito “Pesqueira de 1800”. Como tal, contém trechos suprimidos e resumidos.
Quando da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.

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A fazenda Jenipapo [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento
Enquanto no sertão do Moxotó eram fundadas várias fazendas e sítios de lavoura e criação, a partir de meados do século XVIII, um lugar muitas léguas distante dali, crescia tanto em importância, que em 3 de abril de 1762 era elevado à categoria de vila e sede de município, a tão referenciada Cimbres.

[…] A povoação, com sua igreja matriz e, mais ainda, a partir de 1762, como sede de governo, atraiu um mundo inteiro para lá. Cada homem, querendo uma fatia do poder recém-instalado, começou a subir a serra do Ararobá até alcançar o senado da câmara. Entre estes estava o português Antônio dos Santos Coelho da Silva. 
[…]
Não exatamente, onde ficava o senado, mas, começando a umas três léguas abaixo, o português era dono de uma imensidão de terras, que se estendiam da atual cidade de Pesqueira até alcançar as fronteiras atuais dos municípios de Sanharó e Belo Jardim. Tais propriedades foram antes dos padres oratorianos, os mesmos que foram proprietários também das terras de Pantaleão de Siqueira Barbosa [no Moxotó]. No entanto, Santos Coelho não as adquiriu diretamente àquela congregação religiosa, mas as herdara de sua tia, a misteriosa e pouco registrada nos livros de História, Suzana da Silva [CARACIOLO, 1998, p. 37], que como se percebe era mais rica de bens do que de nome.
É unânime entre os historiadores que suas terras foram passadas a Antônio dos Santos Coelho da Silva, mas o que não se falou até agora é sobre como elas foram parar em suas mãos. Num antigo mapa datado de 1811 (e com acréscimos em 1813), feito por José da Silva Pinto, apresenta-se, num painel, o destino das terras que foram dos referidos congregados. Num trecho relevante, encontramos:
Sítio do Sapato, mais uma porção de terras do Curral dos Bois, menos uma porção de terras denominado [sic] Mimoso, a que era do logrador do dito Sapato, venderam [os padres] a Dona Suzana da Silva […]
No documento não consta o ano desta venda, mas creio que foi entre 1864 e 1784, pois, imediatamente antes, está registrado que o sítio São João foi vendido a Antônio Alves Passos em 1764 e, imediatamente depois, o documento registra a venda do sítio Jacarará a Bartolomeu Francisco e a Inocência Martins em 1784. Depois disso há registro de venda de outra terra em 1789, dando a clara impressão de que os registros foram distribuídos no mapa em ordem cronológica das negociações. 
De qualquer forma, todos os pesquisadores afirmam que Santos Coelho tomou posse da área da fazenda Jenipapo, herdada de dona Suzana da Silva, em 1786 e todos eles contam a mesma história. Dizem que naquele ano, descendo da vila de Cimbres, o português foi fazer o reconhecimento de sua propriedade, tendo ali se perdido. Assim, ele teria feito uma promessa a Santo Antônio, que, se achasse o caminho de volta, construiria uma capela sob aquele orago.
[…]
Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito “Pesqueira de 1800”. Como tal, contém trechos suprimidos e resumidos.
Quando da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.

Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

O inventário de Pantaleão de Siqueira Barbosa [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento
O português Pantaleão de Siqueira Barbosa, já radicado no sertão do Moxotó e tendo fundado sua fazenda Jeritacó, como é natural, teve com sua consorte, dona Ana Leite de Oliveira, vários filhos. Aliás, vários para os padrões atuais, mas, poucos para a época. Com sua morte, em 1795, o velho português deixou sete herdeiros, cujos nomes vamos buscar no texto de sua partilha ocorrida em cartório da Vila de Cimbres entre 1802 e 1808.
Ulysses Lins de Albuquerque, em Moxotó Brabo, afirma que o óbito do mestre de campo ocorreu em 1793 [ALBUQUERQUE, 1979, p. 6], mas não apresenta confirmação. O mesmo faz José de Almeida Maciel, em Pesqueira e o Antigo Termo de Cimbres [MACIEL, 1980, p. 171]. No entanto, Nelson Barbalho, em Cronologia Pernambucana – Vol. 9, na página 206, afirma que o fato data de 29 de junho de 1795, enfatizando: 
Aos 29 de junho de 1795, Dia de São Pedro, falece em sua opulenta Fazenda Jeritacó o mestre-de-campo PANTALEÃO DE SIQUEIRA BARBOSA (1716-1795), português de nascimento e radicado no Sertão do MOXOTÓ desde a primeira metade do século XVIII. [Grifos do autor]
As informações a seguir, sobre os filhos de Pantaleão de Siqueira Barbosa, foram baseadas na transcrição da escritura de partilha feita por Nelson Barbalho no volume 10 da Cronologia Pernambucana [BARBALHO, 1983, p. 55-66]. Eis os nomes:
Manuel José de Siqueira. Foi o fundador de Pesqueira. Segundo a maioria dos historiadores, o primogênito do casal nasceu em 1742 no Moxotó, mas, como veremos oportunamente, há dúvidas quanto a essa data. 
Antônio de Siqueira Barbosa, que aparece no inventário como herdeiro do sítio Itapicuru, faleceu solteiro devido a um desastre, segundo informação de Nelson Barbalho. Para ele ficaram também “o escravo José, por preço de cem mil reis; Vicência, por preço de oitenta mil reis; mais duas colheres de prata, mais um cágado e contas de ouro, por seis mil e quatrocentos reis.”
Maria do Ó de Siqueira, que recebeu no inventário a fazenda Jeritacó. Ela era casada com o capitão Manuel Alves de Oliveira Melo, fundador de uma capela em Custódia e de uma povoação no território de Águas Belas. Quem aparece no tão citado inventário é na verdade o esposo, que recebeu também “a escrava Rita por preço de cem mil reis; Joaquim, por preço de vinte mil reis; duas colheres de prata e um pente de ouro, e umas armas de busto, tudo pelo preço de dois mil reis”.
João de Siqueira Barbosa, conhecido como Capitão João. Tido como homem de palavra, famoso por sua valentia. Para ele ficou o sítio São Bartolomeu. Ele foi pai, entre outros filhos, de Antônio de Siqueira Barbosa Sobrinho (1810-1885), influente em Cimbres em sua época. No inventário, consta para ele também “a escrava Antônia, por preço de cinquenta mil reis; Tereza, por preço de trinta mil reis; duas colheres de prata, vara e meia de cordão de ouro, por preço de cinco mil reis.”
Joaquim Inácio de Siqueira, fenomenal sertanejo, pai de vinte filhos conhecidos como “Os Vinte de Pesqueira”. No inventário do pai, consta para ele o sítio Jardim. Pela sua importância para a história de Pesqueira, veremos mais detalhes sobre ele em parte especial desta obra. Para ele, consta no inventário, o sítio Jardim e mais “a escrava Ignacia, por preço de oitenta mil reis; Sebastião, por preço de cinquenta mil reis; Luíza, por preço de trinta mil reis; Alexandre, por preço de trinta mil reis; duas colheres de prata e um par de brincos, por preço de dois mil reis”.
Pantaleão de Siqueira Barbosa Filho, para quem ficou o sítio Urubu. Foi pai de, no dizer de Nelson Barbalho (Ob. cit., p. 66), “dois célebres valentões do MOXOTÓ e do ARAROBÁ no século XIX”: João de Siqueira, conhecido como João Vermelho, e Manuel de Siqueira Barbosa, conhecido como Nascimento. Para ele ficaram também “o escravo Zacarias, por preço de cinquenta mil reis; a escrava Romana, por preço de sessenta mil reis; Fabrício, por preço de trinta mil reis; duas colheres de prata, dois anéis e um brinco de ouro, por preço de três mil reis.”
Luiz Rodrigues de Siqueira, foi, assim como os irmãos Manuel José e Joaquim Inácio, comandante do Moxotó. Para ele ficou o sítio Maniçoba e mais “o escravo Francisco, por preço de cem mil reis; a escrava Margarida, por preço de cem mil reis, duas colheres de prata, mil reis; o escravo Félix por preço de vinte e cinco mil reis; duas colheres de prata, mais dois pares de botões de ouro, por preço de oito mil reis”.
Pantaleão de Siqueira Barbosa foi o pai de uma imensa e importante legião de Siqueiras, sobrenome que cruzou com outros tantos, dando origem a diversos ramos de relevância para a sociedade pernambucana. Entre elas: os Cavalvanti, Albuquerque, Lins, Bezerra, Sá, Souza Leão, etc. Não foram poucos os homens e mulheres destas famílias a marcar seus nomes na história nacional.

Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito “Pesqueira de 1800”. Como tal, contém trechos suprimidos e resumidos.
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Pantaleão de Siqueira Barbosa e a Fazenda Jeritacó [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento
Antigamente, terra de índio era terra sem dono. O branco chegava, a mando do rei ou do governador, e tomava tudo na marra. O índio foi o primeiro personagem injustiçado na história do Brasil. Pernambuco, não fugindo a regra, massacrou e explorou os nativos, que, armados rudimentarmente, pouco tinham como combater as poderosas armas de fogo dos europeus.

A tradição oral da família Siqueira diz que Pantaleão de Siqueira Barbosa, português de Entre Douro e Minho, o pai de todos os Siqueiras do Sertão, apareceu por volta de 1738 naquela região. Ele vinha tomar posse da propriedade comprada naquele mesmo ano, em Sergipe Del Rey, ao Pe. Miguel Batista, procurador da Congregação do Oratório encarregado de negociar as terras dos padres. [ … ]

Todas as versões dessa história contam que ele chegou acompanhado dos também portugueses Manoel José de Siqueira Barbosa, seu irmão, e um amigo, Gonçalo Correia da Cruz. [ … ]

Permanecemos com a dúvida sobre a data de sua chegada e sobre a data de seu casamento. “Meados do século XVIII” é uma informação imprecisa que nos põe entre 1740 e 1760, talvez. No entanto, com certeza, Pantaleão de Siqueira estava no Sertão em 1753, pois, segundo Alfredo Leite Cavalcanti, ele aparece como testemunha na compra do sítio Fazenda Nova, em 15 de novembro daquele ano [CAVALCANTI, 1997, p. 91-92]. O que parece não haver dúvida é sobre seu casamento com dona Ana, neta de Manuel Monteiro da Rocha. O matrimônio certamente foi registrado em livro da freguesia de Nossa Senhora das Montanhas de Cimbres, livro que infelizmente não existe mais nos arquivos paroquiais ou na diocese pesqueirense, assim como não existem mais os livros nos quais constariam os registros de batismo dos filhos do casal, que seriam esclarecedores de inúmeras questões. [ … ]

O casamento, deduzimos com facilidade, foi bastante vantajoso para Pantaleão. O avô de sua esposa era um dos homens mais importantes do Sertão. Era capitão-mor da Capitania de Ararobá, possivelmente em seu tempo, funcionando na antiga povoação de Garanhuns, hoje progressista cidade de mesmo nome. Naquela época, casamento era quase sempre um negócio. O que a história tem registrado são muitos casos de dotes e vantagens políticas e poucos casos de histórias de amor, que naquele tempo já “não enchia barriga”.

Foi naquela mesma época, diz também a tradição oral citada por diversos historiadores, que Pantaleão de Siqueira mandou construir, em sua fazenda Jeritacó, a capelinha dedicada a Sant’Ana, em homenagem à moça com quem se casara. [ … ]

Das primitivas construções da fazenda, sobrou nos dias de hoje apenas uma fotografia da capela. À época daquele registro, a casa grande e a senzala já não apareceram na imagem, mas outras construções de aspecto antigo, certamente algumas ainda do século XIX. De qualquer forma, nada daquilo existe mais, pelo menos não à vista, pois tudo o que restou foi coberto pelas águas do açude Poço da Cruz, na área municipal de Ibimirim. Assim, ficaram perdidas as relíquias daquele início de civilização sertaneja e os restos do mestre de campo Pantaleão e de dona Ana, que foram enterrados em sepultura aberta na capelinha da fazenda.

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Bibliografia
CAVALCANTI, Alfredo Leite, História de Garanhuns, 2ª ed. CEHM/FIAM. Recife: 1997, p. 91-92.

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Terras do Sertão [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento
O povoamento do interior do Nordeste se deu principalmente com a ocupação da terra pela criação de gado. E foi assim no Sertão de Pernambuco, não fugindo à regra. Aquela região era um mundo de terras para se conquistar e de todas as partes vinha gente em busca de uma fatia. Naturalmente tudo aquilo já tinha seus donos naturais, ou seja, as várias tribos indígenas que existiam em Pernambuco muito antes do homem branco chegar. E com eles não havia negociação. O índio, de forma geral, era tratado como “elemento invasor”, em evidente injustiça, já que o verdadeiro agente nocivo, causador da quebra daquele equilíbrio natural era o branco, que chegou armado, dando poucas chances de sobrevivência aos verdadeiros donos da terra. Não são poucos os relatos, registrados na história, de afronta e espoliação aos Xukurus, Paratiós, Carnijós, dentre várias outras tribos. Aqui se pode entrar numa enorme questão ideológica, mas, seja como for, não se pode negar que o homem branco ganhava toda a terra, dada a ele por quem não era dono legítimo, embora o fosse perante a justiça (do homem branco, vale ressaltar).
Antes de 1738, as terras encravadas naquele então imenso deserto eram medidas de forma muito precária, a qualidade das medições das distâncias entres as propriedades rurais, povoações, etc, eram do mesmo quilate. Tudo era pelo “ouvi dizer” e, quando muito, anotadas em cartas de sesmarias, mas sempre com pouca precisão. Mas foi a partir daquele ano que o governador Henrique Luís Pereira mandou confeccionar os roteiros dos caminhos então existentes na Capitania de Pernambuco, marcando os diversos sítios já antes ocupados e batizados por seus primitivos proprietários. Destes, destacamos o caminho do Ipojuca, transcrito por Nelson Barbalho no volume 7 da Cronologia Pernambucana [BARBALHO, 1983, p. 172]. O roteiro começa em Recife, passa por várias localidades onde hoje se encontram os municípios de Gravatá, Bezerros, Caruaru, Belo Jardim e vários outros do Agreste e Sertão e morre na Matriz do Cabrobó.
A primeira localidade a aparecer na área municipal da atual Pesqueira é Curralinho, a 47 léguas distante do ponto inicial em Recife. A paragem era uma das propriedades fundadas pelo capitão Antônio Vieira de Melo, conforme informação de Nelson Barbalho (ob. cit., p. 176).

[…]

Está claro que as áreas mais movimentadas ficavam junto à água corrente. Nas aludidas negociações, se pararmos para analisar, sempre aparece algum rio: Pajeú, Moxotó e Ipojuca, este último nascente na sesmaria que fora de Fernandes Vieira, na serra do Ararobá, em território depois pertencente ao município de Cimbres e hoje encravada em área do município de Arcoverde. Tais terras deviam ser mais caras e mais procuradas. O motivo é evidente, pois a água era fundamental para a lavoura, criação do gado e, também, para a estruturação dos sítios fundados.
A própria Pesqueira, objeto e razão deste presente estudo, embora tenha seu núcleo alguns quilômetros distante do importante rio Ipojuca, nasceu entre dois importantes riachos: Baixa Grande, que desde da serra do Ararobá e corre por sua base, e Salgado, que corre por trás do primitivo núcleo, deixando a sede da fazenda no centro. Assim, na fazenda, corria água no terreiro e no quintal. Os dois riachos, junto com o Santana, de maior volume d’água, se juntam ali perto, nos mesmos domínios, formando o Ipaneminha.
[…]

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