Pantaleão de Siqueira Barbosa e a Fazenda Jeritacó [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento
Antigamente, terra de índio era terra sem dono. O branco chegava, a mando do rei ou do governador, e tomava tudo na marra. O índio foi o primeiro personagem injustiçado na história do Brasil. Pernambuco, não fugindo a regra, massacrou e explorou os nativos, que, armados rudimentarmente, pouco tinham como combater as poderosas armas de fogo dos europeus.

A tradição oral da família Siqueira diz que Pantaleão de Siqueira Barbosa, português de Entre Douro e Minho, o pai de todos os Siqueiras do Sertão, apareceu por volta de 1738 naquela região. Ele vinha tomar posse da propriedade comprada naquele mesmo ano, em Sergipe Del Rey, ao Pe. Miguel Batista, procurador da Congregação do Oratório encarregado de negociar as terras dos padres. [ … ]

Todas as versões dessa história contam que ele chegou acompanhado dos também portugueses Manoel José de Siqueira Barbosa, seu irmão, e um amigo, Gonçalo Correia da Cruz. [ … ]

Permanecemos com a dúvida sobre a data de sua chegada e sobre a data de seu casamento. “Meados do século XVIII” é uma informação imprecisa que nos põe entre 1740 e 1760, talvez. No entanto, com certeza, Pantaleão de Siqueira estava no Sertão em 1753, pois, segundo Alfredo Leite Cavalcanti, ele aparece como testemunha na compra do sítio Fazenda Nova, em 15 de novembro daquele ano [CAVALCANTI, 1997, p. 91-92]. O que parece não haver dúvida é sobre seu casamento com dona Ana, neta de Manuel Monteiro da Rocha. O matrimônio certamente foi registrado em livro da freguesia de Nossa Senhora das Montanhas de Cimbres, livro que infelizmente não existe mais nos arquivos paroquiais ou na diocese pesqueirense, assim como não existem mais os livros nos quais constariam os registros de batismo dos filhos do casal, que seriam esclarecedores de inúmeras questões. [ … ]

O casamento, deduzimos com facilidade, foi bastante vantajoso para Pantaleão. O avô de sua esposa era um dos homens mais importantes do Sertão. Era capitão-mor da Capitania de Ararobá, possivelmente em seu tempo, funcionando na antiga povoação de Garanhuns, hoje progressista cidade de mesmo nome. Naquela época, casamento era quase sempre um negócio. O que a história tem registrado são muitos casos de dotes e vantagens políticas e poucos casos de histórias de amor, que naquele tempo já “não enchia barriga”.

Foi naquela mesma época, diz também a tradição oral citada por diversos historiadores, que Pantaleão de Siqueira mandou construir, em sua fazenda Jeritacó, a capelinha dedicada a Sant’Ana, em homenagem à moça com quem se casara. [ … ]

Das primitivas construções da fazenda, sobrou nos dias de hoje apenas uma fotografia da capela. À época daquele registro, a casa grande e a senzala já não apareceram na imagem, mas outras construções de aspecto antigo, certamente algumas ainda do século XIX. De qualquer forma, nada daquilo existe mais, pelo menos não à vista, pois tudo o que restou foi coberto pelas águas do açude Poço da Cruz, na área municipal de Ibimirim. Assim, ficaram perdidas as relíquias daquele início de civilização sertaneja e os restos do mestre de campo Pantaleão e de dona Ana, que foram enterrados em sepultura aberta na capelinha da fazenda.

Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito “Pesqueira de 1800”.
Quando da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.

Bibliografia
CAVALCANTI, Alfredo Leite, História de Garanhuns, 2ª ed. CEHM/FIAM. Recife: 1997, p. 91-92.

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