Sobre a Data da Capela de N. Sra. Mãe dos Homens

Nas pesquisas sobre a data da construção da capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens, encontramos duas informações conflitantes: 1802 e 1822. Eu, particularmente, sempre achei que o correto fosse a data mais antiga, conforme já registrei aqui mesmo no site (ler aqui) e no meu primeiro livro (1), no entanto, depois da releitura de algumas fontes e o encontro com novos registros me deixaram numa grande dúvida.
A fonte principal que me levava a ter como certo o ano de 1802 é o registro de Zeferino Galvão na sua monografia Pesqueira em 1920 (2), pois ele, além do grande conhecimento que tinha (sobre diversas áreas, e não só sobre Pesqueira), deve ter conhecido bem a primitiva capela. Esse é o registro mais antigo que encontro tratando da data da construção. O Livro do Tombo da Paróquia de Santa Águeda, que funcionou até 1888 na capela, registra o fato do seu funcionamento provisório, mas não fala nada sobre a época da construção:
Até o ano de 1889, nesta cidade de Pesqueira, ainda não havia uma igreja nas condições de ser matriz da freguesia, apenas tínhamos uma capelinha de antigos fazendeiros da localidade que, por suas acanhadas proporções, não acomodava mais de duzentas pessoas.
É importante lembrar ainda que Zeferino Galvão nasceu em 1864 e chegou a Pesqueira ainda na infância, por volta de 1868/69 (3) . Logo, quando a capela foi reformada em 1920, tinha ele 56 anos de idade. Em resumo, teve tempo suficiente para bem conhecer a construção.
O ponto no qual quero chegar é a existência de uma gravação em baixo relevo na soleira do templo: “1822”, conforme nos conta o Pe. Frederico Maciel (4). Creio que Zeferino sabia da existência da inscrição citada, então por que afirmou que a construção ocorreu em 1802? Há duas respostas possíveis para esta indagação:
  1. Zeferino conhecia algo mais, tinha mais informações que lhe davam a certeza de que o “1822” gravado na capela dizia respeito a outro fato ocorrido e não à sua construção;
  2. Ocorreu um erro tipográfico quando da impressão da Antologia. Zeferino pode ter tido a intenção de escrever “1822” e a tipografia imprimiu “1802”. Mas vale dizer que na edição há uma errata que não cita o possível erro!
Já Pereira da Costa diz que o patrimônio da capela foi instituído em 1822 (5), sendo esse um forte indicativo de que é esse o ano correto da sua fundação. Se a data correta for 1802, a capela deve ter ficado sem funcionar por 20 anos, já que a Diocese de Olinda não autorizaria seu funcionamento sem patrimônio.
Por último gostaria de lembrar que nem sempre as datas gravadas nos antigos prédios dizem respeito à suas construções, mas também às reformas neles executadas. Podemos observar esse fato em Pesqueira nos seguintes exemplos: Fábrica Rosa (reforma em 1910, gravação na fachada. A construção é de 1906), Talho Municipal (construção em 1924, gravação na fachada), Fazenda Gravatá (reforma em 1905, gravações nos oitões. A construção é de 1818). A própria capela tem hoje uma gravação no piso: “1932”, que evidentemente não corresponde à construção nem a reforma de 1920. Esta nova data deve indicar uma outra reforma ocorrida naquele ano.
Acredito que seria uma boa ideia recolocar a inscrição original de 1822, adicionar “1920” (a reforma de Dom José Lopes) e manter o “1932” atual. Há uma igreja num dos engenhos de Moreno que mantém duas datas: a da construção em 1840 e a da reforma em 1990.
Evidentemente o assunto não está encerrado, ainda temos outras fontes não exploradas adequadamente. Seja como for, estou escrevendo um livro especialmente sobre a fazenda Poço da Pesqueira, no qual terei espaço para explorar esse e outros assuntos com a profundidade devida.
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FONTES:

1 NASCIMENTO, Oliveira do. Pesqueira Histórica – Vol. 1. Ed. Do Autor. Pesqueira, 2102
2 GALVÃO, Zeferino. Antologia. Governo de PE. Pesqueira, 1924. p.91.
3 WILSON, Luis. Anísio Galvão – E outras notas para a história de Pesqueira. Camâra de Vereadores. Pesqueira, 1986. p.24.
4 MACIEL, Frederico Bezerra. Ubassagas. Ed. Universitária da UFPE. Recife, 1982. p.300.
5 COSTA, Pereira da. Anais Pernambucanos – Vol. 10. FUNDARPE. Recife, 1985. p.82.


Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.