Autor: Marcelo Oliveira Nascimento

Marcelo Oliveira Nascimento é historiador, formado em Sistemas de Informação com especialização em História e Antropologia. É sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Pesqueira e autor de vários livros sobre a história de Pesqueira e Cimbres. É administrador do Pesqueira Histórica desde 2010, que conta com site, podcast e um canal no YouTube, plataformas todas voltadas à divulgação da história local.

Os 150 anos de Zeferino Galvão

Marcelo O. do Nascimento

No dia 9 de maio de 1864 nascia, em área então pertencente ao município do Brejo, Zeferino Cândido Galvão Filho, intelectual que dispensa apresentações. Segundo ele mesmo, em autobiografia (mil vezes infelizmente desaparecida), chegou a Pesqueira aos seis anos de idade, no mês de maio de 1870. Aqui não ficou rico, ganhou tão somente o necessário para sobreviver, mas tornou-se o maior escritor que a cidade já viu. Foi professor, historiador, filósofo, poeta, jornalista, linguista… Deixou uma obra gigante, mas que muito pouco é conhecida. Muitos de seus trabalhos não chegaram a ser publicados e alguns foram perdidos.

Esse ano completaram-se 90 anos de sua morte, tendo falecido em 1º de fevereiro de 1924. completaram-se também, neste mês de maio, além dos 150 anos de seu nascimento, 144 anos de sua chegada a Pesqueira. Observador, como deveria ser, viu grande parte da evolução de Pesqueira, registros que talvez tenha feito na autobiografia, mas que também talvez nunca cheguemos a conhecer. Nela, em trecho conhecido, disse ele sobre esta terra: “encontrei-a pequena e obscura, monótona e mal construída […] cresci e ela cresceu comigo. De simples vila passou a cidade; tornando-se rica, enchendo-se de habitantes…”

Este mês de maio de 2014 passaria em branco se não fosse a pequena mas importante publicação “Sesquicentenário de Zeferino Cândido Galvão Filho”. É o reconhecimento da Prefeitura Municipal (responsável pela edição), através do Instituto Histórico e Geográfico de Pesqueira e da Fundação de Cultura que carrega o nome do intelectual homenageado. Em trecho da apresentação, resume-se o seu propósito:

“… mais que lembrar o Sesquicentenário de seu nascimento é fazer com que a sua vida e obra chegue aos estudantes e de um modo geral à comunidade pesqueirense, investindo em práticas pedagógicas que visem despertar o gosto pela leitura e a adoção de novos pontos de vista e novas posturas pelo universo literário”.



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O inventário de Pantaleão de Siqueira Barbosa [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento
O português Pantaleão de Siqueira Barbosa, já radicado no sertão do Moxotó e tendo fundado sua fazenda Jeritacó, como é natural, teve com sua consorte, dona Ana Leite de Oliveira, vários filhos. Aliás, vários para os padrões atuais, mas, poucos para a época. Com sua morte, em 1795, o velho português deixou sete herdeiros, cujos nomes vamos buscar no texto de sua partilha ocorrida em cartório da Vila de Cimbres entre 1802 e 1808.
Ulysses Lins de Albuquerque, em Moxotó Brabo, afirma que o óbito do mestre de campo ocorreu em 1793 [ALBUQUERQUE, 1979, p. 6], mas não apresenta confirmação. O mesmo faz José de Almeida Maciel, em Pesqueira e o Antigo Termo de Cimbres [MACIEL, 1980, p. 171]. No entanto, Nelson Barbalho, em Cronologia Pernambucana – Vol. 9, na página 206, afirma que o fato data de 29 de junho de 1795, enfatizando: 
Aos 29 de junho de 1795, Dia de São Pedro, falece em sua opulenta Fazenda Jeritacó o mestre-de-campo PANTALEÃO DE SIQUEIRA BARBOSA (1716-1795), português de nascimento e radicado no Sertão do MOXOTÓ desde a primeira metade do século XVIII. [Grifos do autor]
As informações a seguir, sobre os filhos de Pantaleão de Siqueira Barbosa, foram baseadas na transcrição da escritura de partilha feita por Nelson Barbalho no volume 10 da Cronologia Pernambucana [BARBALHO, 1983, p. 55-66]. Eis os nomes:
Manuel José de Siqueira. Foi o fundador de Pesqueira. Segundo a maioria dos historiadores, o primogênito do casal nasceu em 1742 no Moxotó, mas, como veremos oportunamente, há dúvidas quanto a essa data. 
Antônio de Siqueira Barbosa, que aparece no inventário como herdeiro do sítio Itapicuru, faleceu solteiro devido a um desastre, segundo informação de Nelson Barbalho. Para ele ficaram também “o escravo José, por preço de cem mil reis; Vicência, por preço de oitenta mil reis; mais duas colheres de prata, mais um cágado e contas de ouro, por seis mil e quatrocentos reis.”
Maria do Ó de Siqueira, que recebeu no inventário a fazenda Jeritacó. Ela era casada com o capitão Manuel Alves de Oliveira Melo, fundador de uma capela em Custódia e de uma povoação no território de Águas Belas. Quem aparece no tão citado inventário é na verdade o esposo, que recebeu também “a escrava Rita por preço de cem mil reis; Joaquim, por preço de vinte mil reis; duas colheres de prata e um pente de ouro, e umas armas de busto, tudo pelo preço de dois mil reis”.
João de Siqueira Barbosa, conhecido como Capitão João. Tido como homem de palavra, famoso por sua valentia. Para ele ficou o sítio São Bartolomeu. Ele foi pai, entre outros filhos, de Antônio de Siqueira Barbosa Sobrinho (1810-1885), influente em Cimbres em sua época. No inventário, consta para ele também “a escrava Antônia, por preço de cinquenta mil reis; Tereza, por preço de trinta mil reis; duas colheres de prata, vara e meia de cordão de ouro, por preço de cinco mil reis.”
Joaquim Inácio de Siqueira, fenomenal sertanejo, pai de vinte filhos conhecidos como “Os Vinte de Pesqueira”. No inventário do pai, consta para ele o sítio Jardim. Pela sua importância para a história de Pesqueira, veremos mais detalhes sobre ele em parte especial desta obra. Para ele, consta no inventário, o sítio Jardim e mais “a escrava Ignacia, por preço de oitenta mil reis; Sebastião, por preço de cinquenta mil reis; Luíza, por preço de trinta mil reis; Alexandre, por preço de trinta mil reis; duas colheres de prata e um par de brincos, por preço de dois mil reis”.
Pantaleão de Siqueira Barbosa Filho, para quem ficou o sítio Urubu. Foi pai de, no dizer de Nelson Barbalho (Ob. cit., p. 66), “dois célebres valentões do MOXOTÓ e do ARAROBÁ no século XIX”: João de Siqueira, conhecido como João Vermelho, e Manuel de Siqueira Barbosa, conhecido como Nascimento. Para ele ficaram também “o escravo Zacarias, por preço de cinquenta mil reis; a escrava Romana, por preço de sessenta mil reis; Fabrício, por preço de trinta mil reis; duas colheres de prata, dois anéis e um brinco de ouro, por preço de três mil reis.”
Luiz Rodrigues de Siqueira, foi, assim como os irmãos Manuel José e Joaquim Inácio, comandante do Moxotó. Para ele ficou o sítio Maniçoba e mais “o escravo Francisco, por preço de cem mil reis; a escrava Margarida, por preço de cem mil reis, duas colheres de prata, mil reis; o escravo Félix por preço de vinte e cinco mil reis; duas colheres de prata, mais dois pares de botões de ouro, por preço de oito mil reis”.
Pantaleão de Siqueira Barbosa foi o pai de uma imensa e importante legião de Siqueiras, sobrenome que cruzou com outros tantos, dando origem a diversos ramos de relevância para a sociedade pernambucana. Entre elas: os Cavalvanti, Albuquerque, Lins, Bezerra, Sá, Souza Leão, etc. Não foram poucos os homens e mulheres destas famílias a marcar seus nomes na história nacional.

Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito “Pesqueira de 1800”. Como tal, contém trechos suprimidos e resumidos.
Quando da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.


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Pantaleão de Siqueira Barbosa e a Fazenda Jeritacó [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento
Antigamente, terra de índio era terra sem dono. O branco chegava, a mando do rei ou do governador, e tomava tudo na marra. O índio foi o primeiro personagem injustiçado na história do Brasil. Pernambuco, não fugindo a regra, massacrou e explorou os nativos, que, armados rudimentarmente, pouco tinham como combater as poderosas armas de fogo dos europeus.

A tradição oral da família Siqueira diz que Pantaleão de Siqueira Barbosa, português de Entre Douro e Minho, o pai de todos os Siqueiras do Sertão, apareceu por volta de 1738 naquela região. Ele vinha tomar posse da propriedade comprada naquele mesmo ano, em Sergipe Del Rey, ao Pe. Miguel Batista, procurador da Congregação do Oratório encarregado de negociar as terras dos padres. [ … ]

Todas as versões dessa história contam que ele chegou acompanhado dos também portugueses Manoel José de Siqueira Barbosa, seu irmão, e um amigo, Gonçalo Correia da Cruz. [ … ]

Permanecemos com a dúvida sobre a data de sua chegada e sobre a data de seu casamento. “Meados do século XVIII” é uma informação imprecisa que nos põe entre 1740 e 1760, talvez. No entanto, com certeza, Pantaleão de Siqueira estava no Sertão em 1753, pois, segundo Alfredo Leite Cavalcanti, ele aparece como testemunha na compra do sítio Fazenda Nova, em 15 de novembro daquele ano [CAVALCANTI, 1997, p. 91-92]. O que parece não haver dúvida é sobre seu casamento com dona Ana, neta de Manuel Monteiro da Rocha. O matrimônio certamente foi registrado em livro da freguesia de Nossa Senhora das Montanhas de Cimbres, livro que infelizmente não existe mais nos arquivos paroquiais ou na diocese pesqueirense, assim como não existem mais os livros nos quais constariam os registros de batismo dos filhos do casal, que seriam esclarecedores de inúmeras questões. [ … ]

O casamento, deduzimos com facilidade, foi bastante vantajoso para Pantaleão. O avô de sua esposa era um dos homens mais importantes do Sertão. Era capitão-mor da Capitania de Ararobá, possivelmente em seu tempo, funcionando na antiga povoação de Garanhuns, hoje progressista cidade de mesmo nome. Naquela época, casamento era quase sempre um negócio. O que a história tem registrado são muitos casos de dotes e vantagens políticas e poucos casos de histórias de amor, que naquele tempo já “não enchia barriga”.

Foi naquela mesma época, diz também a tradição oral citada por diversos historiadores, que Pantaleão de Siqueira mandou construir, em sua fazenda Jeritacó, a capelinha dedicada a Sant’Ana, em homenagem à moça com quem se casara. [ … ]

Das primitivas construções da fazenda, sobrou nos dias de hoje apenas uma fotografia da capela. À época daquele registro, a casa grande e a senzala já não apareceram na imagem, mas outras construções de aspecto antigo, certamente algumas ainda do século XIX. De qualquer forma, nada daquilo existe mais, pelo menos não à vista, pois tudo o que restou foi coberto pelas águas do açude Poço da Cruz, na área municipal de Ibimirim. Assim, ficaram perdidas as relíquias daquele início de civilização sertaneja e os restos do mestre de campo Pantaleão e de dona Ana, que foram enterrados em sepultura aberta na capelinha da fazenda.

Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito “Pesqueira de 1800”.
Quando da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.

Bibliografia
CAVALCANTI, Alfredo Leite, História de Garanhuns, 2ª ed. CEHM/FIAM. Recife: 1997, p. 91-92.

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Terras do Sertão [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento
O povoamento do interior do Nordeste se deu principalmente com a ocupação da terra pela criação de gado. E foi assim no Sertão de Pernambuco, não fugindo à regra. Aquela região era um mundo de terras para se conquistar e de todas as partes vinha gente em busca de uma fatia. Naturalmente tudo aquilo já tinha seus donos naturais, ou seja, as várias tribos indígenas que existiam em Pernambuco muito antes do homem branco chegar. E com eles não havia negociação. O índio, de forma geral, era tratado como “elemento invasor”, em evidente injustiça, já que o verdadeiro agente nocivo, causador da quebra daquele equilíbrio natural era o branco, que chegou armado, dando poucas chances de sobrevivência aos verdadeiros donos da terra. Não são poucos os relatos, registrados na história, de afronta e espoliação aos Xukurus, Paratiós, Carnijós, dentre várias outras tribos. Aqui se pode entrar numa enorme questão ideológica, mas, seja como for, não se pode negar que o homem branco ganhava toda a terra, dada a ele por quem não era dono legítimo, embora o fosse perante a justiça (do homem branco, vale ressaltar).
Antes de 1738, as terras encravadas naquele então imenso deserto eram medidas de forma muito precária, a qualidade das medições das distâncias entres as propriedades rurais, povoações, etc, eram do mesmo quilate. Tudo era pelo “ouvi dizer” e, quando muito, anotadas em cartas de sesmarias, mas sempre com pouca precisão. Mas foi a partir daquele ano que o governador Henrique Luís Pereira mandou confeccionar os roteiros dos caminhos então existentes na Capitania de Pernambuco, marcando os diversos sítios já antes ocupados e batizados por seus primitivos proprietários. Destes, destacamos o caminho do Ipojuca, transcrito por Nelson Barbalho no volume 7 da Cronologia Pernambucana [BARBALHO, 1983, p. 172]. O roteiro começa em Recife, passa por várias localidades onde hoje se encontram os municípios de Gravatá, Bezerros, Caruaru, Belo Jardim e vários outros do Agreste e Sertão e morre na Matriz do Cabrobó.
A primeira localidade a aparecer na área municipal da atual Pesqueira é Curralinho, a 47 léguas distante do ponto inicial em Recife. A paragem era uma das propriedades fundadas pelo capitão Antônio Vieira de Melo, conforme informação de Nelson Barbalho (ob. cit., p. 176).

[…]

Está claro que as áreas mais movimentadas ficavam junto à água corrente. Nas aludidas negociações, se pararmos para analisar, sempre aparece algum rio: Pajeú, Moxotó e Ipojuca, este último nascente na sesmaria que fora de Fernandes Vieira, na serra do Ararobá, em território depois pertencente ao município de Cimbres e hoje encravada em área do município de Arcoverde. Tais terras deviam ser mais caras e mais procuradas. O motivo é evidente, pois a água era fundamental para a lavoura, criação do gado e, também, para a estruturação dos sítios fundados.
A própria Pesqueira, objeto e razão deste presente estudo, embora tenha seu núcleo alguns quilômetros distante do importante rio Ipojuca, nasceu entre dois importantes riachos: Baixa Grande, que desde da serra do Ararobá e corre por sua base, e Salgado, que corre por trás do primitivo núcleo, deixando a sede da fazenda no centro. Assim, na fazenda, corria água no terreiro e no quintal. Os dois riachos, junto com o Santana, de maior volume d’água, se juntam ali perto, nos mesmos domínios, formando o Ipaneminha.
[…]

Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito Pesqueira de 1800. 
Antes da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.

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Pesqueira Histórica em 2014

Marcelo do Nascimento.

Manter um site como o Pesqueira Histórica sozinho não é fácil, especialmente quando se trata de uma atividade secundária e sem fins lucrativos. Meus afazeres profissionais são outros, como bem sabem os que me conhecem pessoalmente. As matérias publicadas são, quase em sua totalidade, produzidas e editadas por mim, com raríssimas exceções. Aproveito, assim, para pedir desculpas, sobretudo, pelos erros de digitação (ou até de ortografia) que vez ou outra aparecem como fantasmas, sem que nos demos conta.
Durante esses anos que se passaram desde a estreia do site, consegui publicar pelo menos uma matéria por mês, o que, evidentemente, é muito pouco para o movimento sem freios da internet. As pessoas, creio, se prendem a determinados endereços no mundo virtual quando eles lhes oferecem mudanças constantes. Parece que os que estão em repouso estão, de certo modo, “excluídos” da rede.

Neste ano de 2014, pretendemos alimentar o Pesqueira Histórica não apenas com matérias soltas, mas com fragmentos de livro de meu punho, atualmente em processo de escrita. É claro que existirão as exceções e, sempre que possível e necessário, artigos exclusivos continuarão a aparecer.
Os motivos, em parte, vêm do que já explicamos no começo: falta de tempo ou mão de obra para manter o site com matérias exclusivas. O livro que agora está em produção têm consumido muitos minutos do meu tempo livre, o que certamente sacrificou muitas matérias inéditas com potencial para publicação.
Desta forma, seguindo conselhos, decidi, pelo menos durante esse ano, e talvez o próximo, editar o Pesqueira Histórica principalmente com fragmentos do meu livro inédito. Com isso deve ser favorecido o volume de publicações do site, já que haverá apenas um foco de trabalho.
Os fragmentos citados, serão adaptados, editados para tentar chegar ao máximo de simplicidade, mais compatível com a leitura na tela do computador. Tais artigos só poderão ser lidos por completo no livro, quando este for editado.
Também pretendo retornar com o Dicionário Histórico Pesqueirense, desta vez inserido no próprio Pesqueira Histórica, o que facilitará o acesso. Por falar nisso, o dicionário, que ora funciona on line, se tornará livro assim que possível. São muitos projetos para duas mãos apenas, mas eles vão se realizando aos poucos. Estamos já com o segundo volume do Pesqueira Histórica concluído, livro que deve ser lançado ainda esse ano. Fora o livro que estou escrevendo, que deve ser lançado em 2016, tenho pelo menos uns cinco em mente. Um deles, deve aparecer em 2018, para marcar os 100 anos da Diocese de Pesqueira. Daí por diante não consigo fazer previsões, mas é certo que os trabalhos impressos não deixarão de surgir.
Também temos um projeto de catalogar o patrimônio histórico de Pesqueira a fim de guardar o documento para as gerações futuras e até mesmo para pesquisadores ou curiosos do tempo atual. Parece uma tarefa simples, mas em alguns casos requer muita pesquisa de campo e bibliográfica. Se um trabalho como esse tivesse sido feito décadas atrás, hoje seria muito mais fácil entender nossa história. As pessoas mais antigas estão desaparecendo e enterrando com elas muitas histórias e informações sobre as velhas casas de Pesqueira.
Aproveito para agradecer a todos que têm acessado o site nestes últimos anos. Sei que são poucos mas são fieis. Cativar leitores para esse segmento da literatura não é nada fácil, não só pelo pouco gosto que atualmente se tem pela leitura, mas também pela maioria das pessoas encararem a história como um assunto monótono, massante. Por isso, cada leitor, para mim, é muito importante. Ser lido por alguém é sempre um privilégio. Assim que o livro Pesqueira Histórica – Volume 2 estiver publicado, vamos inventar alguma promoção a fim de presentear alguns leitores.
Há muito tempo, não há um só dia no qual eu não leia, pesquise ou escreva algo sobre a história de Pesqueira e Cimbres. É algo que me completa e da qual não abro mão. Espero continuar, durante este ano e os próximos, compartilhando um pouco desse universo com todos vocês.


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O Museu do Doce

Por Marcelo do Nascimento
No último 7 de dezembro, às 4 horas da tarde, num evento magnífico, de organização impecável, foi entregue a Pesqueira o Museu do Doce, um incrível acervo de máquinas, fotografias e documentos que contam a história das antigas fábricas de doce de Pesqueira, sobretudo da Fábrica Rosa, que, fundada pelos irmãos Didier, passou para as mãos do sr. Severino Paixão em 1975, que a manteve funcionando até 1996, quando a empresa completava 90 anos de existência.
Naquele mesmo dia, muitos blogs produziram suas matérias, mas o Pesqueira Histórica se absteve de fazer o mesmo naquela data pelo evento ter sido, merecidamente, coberto pelos veículos mais populares da cidade. E, sobretudo, não era nosso interesse produzir simplesmente mais uma matéria entre tantas.
Na abertura do evento, o Pe. Marconi, pároco da matriz de Santa Águeda, resumiu, em poucas palavras, tudo o que penso sobre a História. Ele dizia que o museu não era algo que serviria apenas para admiração de objetos que remontam o passado de Pesqueira, mas também como exemplo para a geração atual e para as que virão, um exemplo de atitude, um exemplo concreto do “fazer”. E é disso que precisamos, não tenho dúvida.
Particularmente falando, sempre encarei a História como uma ciência que ensina, com os fatos do passado, a vivermos melhor no nosso tempo. É da nossa própria história que tomamos lições e exemplos do que devemos fazer, e também do que não devemos fazer, para construirmos um futuro sem erros. Na ignorância, mais presente no ser humano do que deveria, a história é apenas um amontoado de coisas velhas, empoeiradas e inúteis. Pobre do homem que não consegue ver na sua própria história o caminho para a evolução. Está aí a própria Pesqueira, que vive dias tão difíceis, mas que não consegue olhar para trás e tirar qualquer lição das experiências por ela vividas.
Antes não precisássemos do Museu do Doce, melhor seria ver a Rosa, a Peixe, a Tigre, a Cica, a Maravilha, todas funcionando e empregando pesqueirenses, como foi durante um século inteiro. Mas, se não podemos ter mais esses empreendimentos, o melhor a fazer é preservar suas memórias e usá-las como exemplo. Pior seria abandonar o pouco que restou, com isso não se ganharia nada. E, diga-se de passagem, foi, em parte, por causa de pensamentos como esse que, que Pesqueira perdeu a maior parte de seu patrimônio histórico.
Hugo Paixão, arquiteto, filho do Sr. Severino Paixão, levou à frente a empreitada de montar o museu. Aproveitou o maquinário restante da Rosa e buscou reunir material da Peixe, Recreio e até da Tambaú. Reuniu tudo num espaço dentro do mais que centenário prédio da Rosa. Mas não fez de qualquer jeito, muito pelo contrário. Tudo foi organizado de forma didática, com identificação e com muita beleza. Por sinal, tudo no museu é de extremo bom gosto. Não consigo imaginar, dentro deste seguimento, nada melhor do que lá vi!
A história de Pesqueira está há anos abandonada. Faz muito tempo que não se vê uma atitude em sua defesa e preservação. Agora é preciso reconhecer o trabalho de Hugo Paixão, cujo sobrenome traduz perfeitamente o que ele sente pela história da sua fábrica Rosa, sua e de nós todos, pois agora não há como não termos a antiga fábrica para nós também. Sabemos que não é fácil fazer cultura neste País, por isso imaginamos o trabalho que foi demandado na empreitada do museu. Talvez nenhuma outra pessoa tivesse conseguido o que ele conseguiu: juntar material, fazer o projeto, buscar apoio… É inacreditável como ele conseguiu!
No evento, destaco o levantamento histórico feito pelo Dr. Eduardo Paixão, que teceu palavras brilhantes sobre a indústria pesqueirense e sobre o Sr. Severino Paixão, seu pai. Foi uma aula de como bem contar uma história.
Outro ideia fenomenal foi a confecção de objetos alusivos à fábrica Rosa: camisetas, placas e miniaturas de tachos, reproduções dos originais existentes no museu.
Severino Paixão emprestou seu nome ao museu, nada mais justo, já que foi ele quem deu fôlego ao empreendimento nos anos 70. Se não fosse ele, talvez a Rosa não tivesse durado tanto e talvez não tivéssemos o museu, já que foi dele a ideia de construí-lo.
A vida em democracia nos obriga a ver, ler e ouvir todo tipo de opinião, nem sempre como gostaríamos. Dessa forma, há e haverá críticos de tudo, inclusive de atitudes como as que resultaram na inauguração do Museu do Doce. No entanto, cultura é cultura, isso não se pode negar. Termos o museu é um privilégio, vermos peças que nem imaginávamos que ainda pudessem existir nos causa o sentimento de abrir a arca de um tesouro que há muitos anos estava escondida.
Numa época na qual os vestígios do passado de Pesqueira estão desaparecendo, ver o acervo da história das fábricas locais reunido de forma tão segura e organizada, nos enche de alegria e esperança de que poderemos ter dias melhores.

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Os Suíços de Papagaio

Foto: Eri Martins

As informações mais antigas sobre Papagaio, hoje distrito de Pesqueira, dizem respeito a Constant Duvoisin, natural de Granson, na Confederação Helvética. Migrando para o Brasil, o suíço instalou-se primeiro em São Bento, depois se mudou para Papagaio, onde se casou, formou família e viveu até sua morte em 26 de setembro de 1882.
Algumas notas genealógicas soltas na internet indicam que ele teria vindo para o Brasil em 1859, mas não encontramos documentos que validem tal informação. O certo é que, em certa época, o senhor Duvoisin comprou a fazenda Papagaio, propriedade que leva o mesmo nome do rio que corre naquela região. Não sei se na época da compra já se tratava de fazenda constituída ou apenas uma porção de terra que foi por ele transformada em fazenda.
Provavelmente, por volta de 1866, ele se casou com Maria Rita da Conceição Carlos. Em 1867 e 1869, nasceram na fazenda Papagaio respectivamente Henrique Carlos Duvoisin e Inês Carlos Duvoisin, ambos filhos do casal. As crianças foram registradas no Consulado Suíço, em Recife, recebendo a nacionalidade do pai. Os dois foram assim, suíços nascidos em Papagaio. Estas informações foram anotadas por José de Almeida Maciel (Pesqueira e o Antigo Termo de Cimbres. CEHM/FIAM, 1980), que descreveu inclusive alguns traços de dr. Constâncio, como ele era conhecido. Segundo o autor:
“Geralmente chamado Doutor Constâncio (não ficou provada a obtenção do diploma), falava vários idiomas e dispunha de conhecimentos aprofundados de Medicina. Redação correta e impecável caligrafia, tudo isto o reputava um afeiçoada das letras.”
Como se percebe, ele era homem diferenciado na época e lugar em que viveu. 
A fazenda Papagaio era bastante extensa e equipada, conforme as mesmas notas de José de Almeida Maciel:
“[…] abrangia um âmbito de 240 braças de largura com o comprimento desde a estrada que vem de Covas até encontrar terras de Riachão (São Bento). Continha casa de vivenda e três outras: de escola, de bolandeira e de prensa; cercados currais e açude. Foram anexadas outras partes adquiridas de Pantaleão Batista Bruno (fazenda Covas), João Gabriel (Papagaio de Cima), Justino e Marcos (Marimbas), Francisco de Goes, José Maurício, Inácio Camilo; uma parte em Salobro e duas outras, Cascavel e Boa Vista, no município limítrofe de São Bento.”
O patriarca Duvoisin deixou, segundo seu inventário, 130 cabeças de gado, 8 cavalares, 80 cabruns e 60 ovelhuns. No inventário constava ainda uma farmácia, mercadorias de estivas, molhados, miudezas e ferragens. Ocorre que o suíço era comerciante. Inclusive, um compatriota eras seu correspondente comercial em Pesqueira: o também suíço Ricardo Caduff.
Outro trecho do inventário apresenta: um relógio de ouro avaliado em 50 cruzeiros (muito caro na época), cadeiras, bancos, mesas, balanças, 3 revólveres, máquina de descaroçar, prensa para ensacar algodão, relógio de parede, prateleiras, balcão, prensa de copiar cartas, óculo de alcance, livros encadernados e em brochura, duas classes para escola, um globo para estudo de geografia e uma caixa de matemáticas.
Percebemos a existência de itens inusitados, inclusive o material escolar.
No inventário aparecem apenas três escravos, poucos para o tamanho da fazenda.
Os filhos de dr. Constâncio deixaram muitos descendentes em Papagaio e em Pesqueira. Na cidade, ainda hoje, encontramos muita gente com seu sobrenome, embora registrado com muitas variações por erro dos cartórios.
Marcelo do Nascimento.
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Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

O Prédio do Senado de Cimbres [fragmento]

Por  Marcelo Oliveira do Nascimento

*Esse artigo  é um  fragmento
do livro inédito Pesqueira Histórica – Volume 2

  As chamadas casas de câmara e cadeia são talvez o símbolo mais importante do poder das antigas vilas do Brasil. Combinado ao pelourinho e a igreja matriz, formavam seu conjunto administrativo, judicial, legislativo e religioso, sendo estas as bases de seu funcionamento.

 Tais funcionalidades obrigavam as construções a ter um formato padronizado. Eram formadas geralmente por dois pisos. Na parte de baixo funcionava a cadeia, com duas ou mais janelas com grades que davam para a frente. Essas janelas davam para as celas, que eram duas, uma para cada sexo. No piso de cima funcionava a administração e a justiça.
Em Cimbres, o chamado prédio do senado da câmara não segue esse padrão, como pode ser comprovado facilmente com uma análise visual. Ele é formado por um único piso, uma construção bastante modesta que, aparentemente, não tem espaço suficiente para abrigar todas as funções necessárias ao funcionamento da vila.
O que ocorreu no caso de Cimbres é que seu alvará de criação determinou que o governo fosse instalado provisoriamente num salão pertencente aos padres do Oratório de São Filipe Neri. O senado deveria funcionar ali até que a sede definitiva fosse construída, o que acabou nunca acontecendo.
Polêmica é coisa que não falta na história local. Entre tantas existe adata daconstrução do prédio do senado cimbrense. Emborahajam dúvidas,ele deve datar bem antes de1836, já que naquele ano a sede do munício foi transferida para Pesqueira depois de anos de indicativos de que o fato ocorreria. Com certeza o governo não construiria um prédio com a previsão de, em poucos anos, ser desativado.
A primeira determinação quando da criação do município era que o novo governo devia aproveitar a casa dos padres oratorianos para se instalarenquanto o prédio adequado não fosse construído: ficará para as audiências e Câmara a sala nova e grande que os mesmos padres missionários acrescentaram às casas de sua residência” (66). Percebe-se que o espaço que devia ser usado era uma sala anexa à casa de residências dos padres. Entendemos que não era uma sala dentro da residência e sim um acréscimo à estrutura já existente. O que não está claro é se esta sala se ligava diretamente à casa ou se era isolada da mesma. No trecho seguinte temos outra pista: “nestes termos lhe ficará sendo supérflua [ao novo vigário] a dita nova sala e casa” . Parece que eram estruturasindependentes a casa e a dita sala. E ainda parece que a casa era um sobrado pois os oratorianos “deixam casas bastantes e de sobrado para a acomodação muitolarga de qualquer outro pároco”.
O que se vê atualmente na área ao redor do prédio do senado em Cimbres são algumas casas residenciais de construção recente. Se havia uma casa antiga ou sobrado que pertencera aos oratorianos, há muito tempo não existe mais. Dessa forma não podemos garantir que o prédio seja a sala citada no texto de 1762. No mais, o prédio foi construído isolado por todos os quatro lados.É interessante observar também que o prédio tem divisórias internas bastante primitivas, com madeiramento das forras das portasnos mesmos moldes da porta de entrada bem como das janelas externas. Esse detalhe o invalida como “sala”, a menos que as divisórias tenham sido feitas depois, mas não é o que parece.
Durante o passar dos anos, é natural que muitas histórias apareçam e, até que se obtenha documentação para validá-las, nunca saberemos sobre sua autenticidade. O velho prédio do senado, além de não conseguir comprovar sua data de “nascimento”, como se não conseguisse descansar em paz, é envolto num mistério, tudo depois de uma reforma feito pelo então prefeito do município Ésio Araújo. O que o ocorre é que alguns dizem em Pesqueira que durante aquela obra o prédio foi literalmente reconstruído. Há quem diga que ele foi demolidoe em seguida refeito tijolo a tijolo!

A primeira pessoa a questionar esta versão dos fatos foi Marciana Nascimento, que estudou a única fonte sobre a obra encontrada até agora: o Álbum do Município de Pesqueira (1948-1951).

De fato, não parece ter havido reconstrução e sim reforma. Pelo menos é isso que encontramos documentado, além do fato de não encontrarmos lógica na demolição para posterior reconstituição. Qual a vantagem de uma obra deste tipo?
Talvez essa história, que acredito ser apenas lenda, tenha surgido pelo uso inadequado (?) do termo “reconstrução”. Encontramos largamente na história de Pesqueira esse termo sendo usado como reforma, melhoramento, recuperação, etc. Foi assim com a igreja matriz de Cimbres, com a capela de Pesqueira, com o antigo talho municipal, dentre outros casos.

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Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

O Livro da Criação da Vila de Cimbres (fragmento)



Poucos lugares têm o privilégio de contar com uma coleção de documentos tão importante como Pesqueira. Não pelo simples motivo de os mesmos existirem devido à idade do lugar, mas perincipalmente por terem sido salvos por séculos, como é o caso do Livro da Criação da Vila de Cimbres.

Volto ao tema Literatura para apresentar uma das mais fascinantes fontes primárias que se tem notícia na história local. Minha intenção em abordar tais livros é facilitar a busca dos eventuais novos pesquisadores por informações relativas à história de Pesqueira. Assim o fiz com Pesqueira e o Antigo Termo de Cimbres, de José de Almeida Maciel, e Ararobá Lendária e Eterna, de Luís Wilson. Naquela ocasião, procurei fazer uma explanação do que era possível encontrar naquelas obras. Já neste caso, tal tarefa se torna muito mais difícil, pois não se trata exatamente de um livro que trata da história de Pesqueira e Cimbres, mas de uma coletânea de documentos datados desde meados de 1700.

Nele, durante o período de 1762 a 1867, foram anotados os mais diversos documentos referentes ao município de Cimbres, primeiramente em sua fase de funcionamento na vila de mesmo nome e continuando, após 13 de maio de 1836, na povoação de Pesqueira.
O original do livro foi manuseado por vários pesquisadores pesqueirenses: Cazuzinha Maciel, Luís Wilson e outros. Creio ter sido, o manuscrito, o que de mais precioso tiveram em mãos quanto ao assunto história local.
Mesmo de tão grande valor, a ele nunca foi dado o tratamento merecido até que, por ironia, uma enchente o salvou.
Em 1977 o riacho da Baixa Grande invadiu o arquivo da prefeitura municipal pela terceira vez, conforme conta José Florêncio Neto. Com autorização do então prefeito Eutrópio Monteiro Leite, Florêncio pôs-se em socorro da documentação que fora organizada em 1865 por Zeferino Galvão. Ele conta ainda que conseguiu salvar, parcialmente danificados, além do Livro da Criação da Vila de Cimbres:
  • Atas da Câmara Municipal de Cimbres (1840-1856)
  • Livro de Qualificação dos Eleitores de Alagoa de Baixo (atual Sertânia)
  • Registros das matrículas da Escola Municipal de Pesqueira do sexo masculino (1900-1909)
Tão importante quanto aquele resgate, foi o interesse de Florêncio em dar início a uma demanda por tornar público aquela coleção de documentos de mais de 200 anos. Para isso contou com as orientações dos historiadores Nelson Barbalho, Luís Wilson e, entre outros, José Antônio Gonçalves de Mello. Este último tendo o aconselhado a proceder com a leitura paleográfica do texto original manuscrito.
Obs: O presente texto é o fragmento de artigo a ser publicado, em versão completa, no volume 2 da série Pesqueira Histórica.

Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

O Talho Municipal de 1924


A primeira metade da década de 1920 registrou muitas obras no município de Pesqueira. Algumas são creditadas ao governo do Estado, mas muitas foram feitas pelo próprio governo local, no caso, na administração de Cândido de Brito, o popular Major Candinho. Entre elas, a de maior valor arquitetônico (sem discutirmos sua utilidade pública) foi o Talho Municipal. O termo caiu em desuso, mas, felizmente, se mantém gravado na fachada até hoje.
A gravação do ano de sua construção também está intacta no frontispício: 1924. Já são quase 90 anos do prédio e, pelo que observamos, restam poucos da mesma espécie e época no Estado.
Aquela década foi bastante movimentada em Pesqueira. Em 1925, o governador Sérgio Loreto visitou a cidade. Entre as obras do Estado da época, registramos a cadeia pública e o grupo escolar Virgínia Loreto como exemplares de bela arquitetura ainda hoje preservados. As edificações foram inauguradas em 1924 e 1925. Aliás, a viagem do governador à cidade foi para atender o convite para a inauguração do grupo escolar.
É natural que o Estado, com mais recursos e provavelmente munido de bons profissionais da área da arquitetura e construção, fizesse obras tão bem acabadas como as citadas. E isso reforça ainda mais o espanto com que se encara a arquitetura do antigo talho construído pelo município, que ainda hoje chama a atenção pelos belos traços. Preferências a parte, é evidente que a predominância atual das edificações sem qualquer identificação de estilo (e gosto muitas vezes duvidoso), amplifica a beleza das antigas construções.
Outro fato curioso é o acanhado tamanho da construção original, que corresponde à parte da esquerda de quem a mira de frente, exatamente a parte referente à fachada desenhada. Até 1950 o talho tinha apenas aquela pequena área e um curral ao lado. Com o tempo, com o aumento da população, da economia e, consequentemente do consumo, o talho ficou pequeno demais.
Em 1951, no governo de Ésio Araújo, a prefeitura procedeu com uma grande ampliação no prédio. Tenho a impressão que pelo menos duplicou de tamanho. Na obra foi previsto o gasto de Cr$ 600.000,00 e a previsão de finalização era meados de novembro de 1951, conforme encontramos no álbum Município de Pesqueira 1948 – 1951, publicado no fim daquele último ano, na gestão de Ésio Araújo:
Iniciada recentemente, encontra-se em plea plena atividade a construção do majestoso edifício do Açougue Público Municipal e que será entregue à população pesqueirense em meados de Novembro próximo. A despesa consignada no orçamento dessa importante obra é de Cr$ 600.000,00.


No mesmo álbum, em seguida, consta a informação de que a ampliação foi feita no curral lateral. Podemos constatar visualmente, mas o texto confirma:
A construção do Açougue Público no local onde estava destinado ao recolhimento do gado em dias de feira, motivo à edilidade construir um novo e amplo curral para os animais, dispondo de cocheiras, gastando com essa iniciativa a quantia de Cr$ 21.669,80.
(Ob. cit., sem numeração de páginas)


O segundo curral, creio, foi feito no início da estrada de Poção, logo após o cruzamento da rua Carlos Leitão com a avenida Ésio Araújo.
Cabe a ressalva que não houve construção do açougue daquela vez, como consta no texto, a obra era na verdade uma reforma do prédio já existente desde 1924, uma ampliação. Em Pesqueira se registra muito “construção” ou “reconstrução” no lugar de ampliação reforma, recuperação, etc. Isso muitas vezes impede o entendimento correto dos fatos.
O termo “majestoso edifício” denuncia a percepção do seu estilo e bom gosto mesmo naquela época.
A reforma empreendida por Ésio Araújo é bastante interessante para se observar o estilo arquitetônico de cada época. Percebemos com facilidade o contraste entre os dois estilos do prédio. A parte original da época do Major Candinho, embora simples, é bem desenhada, com curvas e certo requinte. A parte “nova”, da época de Ésio Araújo, é extremamente simples, de linhas retas, sem qualquer rebuscamento. A separação temporal das duas partes nem é tão grande, pouco mais de 20 anos, mas a diferença nos estilos arquitetônicos é evidente.
Segundo informação do Álbum de Pesqueira – 1923 a 1925, o açougue foi inaugurado em 21 de junho de 1925 (41). Curiosamente foi no mesmo dia em que, às 13:30, chegou à estação ferroviária de Pesqueira o governador Sérgio Loreto, mas não encontro registro de sua participação na inauguração.
O açougue funcionou no histórico prédio até 2007, quando o comércio de carnes foi transferido para o prédio da antiga fábrica Peixe, onde já estava funcionando a feira livre. Em 2008 ele passou a abrigar a Universidade Aberta do Brasil, que foi transferida do prédio do CAIC.
Esse novo uso a qual foi destinado, embora nobre, é incompatível com as características da construção, que de forma alguma é apropriada para estudo, leitura ou qualquer outra atividade intelectual. De qualquer forma, enquanto estiver ocupado, é pelo menos mais um motivo para mantê-lo bem conservado.




Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.
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