A fazenda Jenipapo [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento
Enquanto no sertão do Moxotó eram fundadas várias fazendas e sítios de lavoura e criação, a partir de meados do século XVIII, um lugar muitas léguas distante dali, crescia tanto em importância, que em 3 de abril de 1762 era elevado à categoria de vila e sede de município, a tão referenciada Cimbres.

[…] A povoação, com sua igreja matriz e, mais ainda, a partir de 1762, como sede de governo, atraiu um mundo inteiro para lá. Cada homem, querendo uma fatia do poder recém-instalado, começou a subir a serra do Ararobá até alcançar o senado da câmara. Entre estes estava o português Antônio dos Santos Coelho da Silva. 
[…]
Não exatamente, onde ficava o senado, mas, começando a umas três léguas abaixo, o português era dono de uma imensidão de terras, que se estendiam da atual cidade de Pesqueira até alcançar as fronteiras atuais dos municípios de Sanharó e Belo Jardim. Tais propriedades foram antes dos padres oratorianos, os mesmos que foram proprietários também das terras de Pantaleão de Siqueira Barbosa [no Moxotó]. No entanto, Santos Coelho não as adquiriu diretamente àquela congregação religiosa, mas as herdara de sua tia, a misteriosa e pouco registrada nos livros de História, Suzana da Silva [CARACIOLO, 1998, p. 37], que como se percebe era mais rica de bens do que de nome.
É unânime entre os historiadores que suas terras foram passadas a Antônio dos Santos Coelho da Silva, mas o que não se falou até agora é sobre como elas foram parar em suas mãos. Num antigo mapa datado de 1811 (e com acréscimos em 1813), feito por José da Silva Pinto, apresenta-se, num painel, o destino das terras que foram dos referidos congregados. Num trecho relevante, encontramos:
Sítio do Sapato, mais uma porção de terras do Curral dos Bois, menos uma porção de terras denominado [sic] Mimoso, a que era do logrador do dito Sapato, venderam [os padres] a Dona Suzana da Silva […]
No documento não consta o ano desta venda, mas creio que foi entre 1864 e 1784, pois, imediatamente antes, está registrado que o sítio São João foi vendido a Antônio Alves Passos em 1764 e, imediatamente depois, o documento registra a venda do sítio Jacarará a Bartolomeu Francisco e a Inocência Martins em 1784. Depois disso há registro de venda de outra terra em 1789, dando a clara impressão de que os registros foram distribuídos no mapa em ordem cronológica das negociações. 
De qualquer forma, todos os pesquisadores afirmam que Santos Coelho tomou posse da área da fazenda Jenipapo, herdada de dona Suzana da Silva, em 1786 e todos eles contam a mesma história. Dizem que naquele ano, descendo da vila de Cimbres, o português foi fazer o reconhecimento de sua propriedade, tendo ali se perdido. Assim, ele teria feito uma promessa a Santo Antônio, que, se achasse o caminho de volta, construiria uma capela sob aquele orago.
[…]
Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito “Pesqueira de 1800”. Como tal, contém trechos suprimidos e resumidos.
Quando da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.

Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.