Ipanema e a Antiga Fazenda Barra

A história de Ipanema começa em 1671. Em dezembro daquele ano o sítio Barra integra a sesmaria doada a Bernardo Vieira de Melo (o velho), Antônio Pereira Pinto e Manuel Vieira de Lemos. Era uma grande porção de terra que ia da Mata ao Sertão, atingindo o centro e o Sul do Agrestei. O centro da sesmaria era a serra do Opi, onde hoje fica a atual cidade de Jupi: “junto ao riacho Lima, correndo para o Sul até a serra do Bocú e da terra do mesmo riacho Lima correndo pelo rio de Ipojuca a Lima de uma banda e de outra até a serra de Tacoaty.”
Antônio Pereira desistiu das terras e as doou a Vieira de Melo, assim como Vieira de Lemos, que também as cedeu, exceto o sítio à beira do Ipanema, onde resolveu se fixar. Isso torna a antiga fazenda Barra a primeira propriedade rural da região de Pesqueira, excetuando-se os currais de João Fernandes Vieira. Podemos dizer então que em dezembro passado a velha fazenda Barra completou 340 anos! Na mesma época era instalada a missão de Ararobá pelo Pe. João Duarte do Sacramento exatamente no lugar que mais tarde viria a ser a vila de Cimbres.
O sítio Barra ganhou esse nome por nele ficar localizada a barra dos rios Ipaneminha e Frecheira, formando o rio Ipanemaii, que depois “rebatizaria” a própria localidade.
Em fins do século XVIII entra na história do sítio Barra o famoso capitão André Cavalcanti, que também assinava André Arcoverde, bisavô no notável Cardeal. Naquela época ele adquiriu o sítio a José Vieira de Lemos, onde veio então a residir. Não consigo precisar a data, mas creio que foi por volta de 1796 ou 1797, conforme informações de José de Almeida Macieliii. Com certeza, em 1809, há anos ele já vivia lá, pois foi na sua fazenda que faleceu sua esposa, dona Úrsula Jerônimaiv
Foi em 1909, com a passagem dos trilhos da antiga Great Western, que o sítio Barra teve seu nome mudado para “Ipanema”v, o mesmo nome da estação ferroviária construída.
Não encontro, até o momento, nenhuma informação precisa sobre a localização da antiga casa grande da fazenda. Em conversa com alguns moradores de lá, percebi controvérsias. Sobre a capela, os moradores mais velhos afirmam que a existente é a original. A informação tem sentido, pois Zeferino Galvão (em obra já citada), afirma que em 1920 Ipanema tinha 2 casas, 20 moradores e a capela de São Joaquim. Ora, que sentido há na construção de uma capela pública por parte da Igreja numa comunidade na época tão pequena? De fato ela devia vir da fazenda, tendo sido então uma capela particular.
Sobre o seu orago, Zeferino Galvão afirma que era São Joaquim (em 1920), mas o atual, como é notório, é N. Sª da Conceição. Em conversa com Pe. Eduardo Valença fiquei sabendo que houve reforma na capela em alguma época e que não há quaisquer informações sobre a existência da imagem de São Joaquim, fato comprovado pela fotografia do altar feita por Roseane Brito.
O povoado de Ipanema fica num lugar muito agradável, favorecido pela natureza ao redor. O povo é simpático e hospitaleiro. O lugar tem muita história, teve uma importância política muito grande no século XIX, lá ainda existem algumas casas antigas bem conservadas. Falta divulgação e cuidado, falta reconstruir a velha estação ferroviária, reativar a linha entre Sanharó e Mimoso para um passeio histórico passando por lá. Para alguns uma grande besteira, para outros um sonho enorme.
Por Marcelo Oliveira do Nascimento.

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Agradecimentos a Roseane de Carvalho Brito pela fotografia do altar da capela.
FONTES:
iBARBALHO, Nelson. Caboclos do Urubá. FIAM/CEHM. Recife, 1977. Pg. 40.
iiGALVÃO, Zeferino. Antologia. Governo de PE. Recife, 1924. Pg. 99.
iiiMACIEL, José de Almeira. FIAM/CEHM. Recife, 1980. Pg. 137.
ivFonte citada no item anterior.
vZeferino Galvão, fonte já citada.

Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.