O Primeiro Bispo da Diocese de Pesqueira

A maioria das pessoas, talvez todas, tem Dom José Lopes como o primeiro bispo de Pesqueira. No entanto a história oficial é diferente.
Em 5 de dezembro de 1910, a Igreja de Roma criou a Diocese de Floresta, a primeira do Sertão pernambucano, desmembrada da então Diocese de Olinda, que na mesma data foi elevada a Arquidiocese. Em 12 de maio do ano seguinte, a nova e imensa diocese conheceria o seu primeiro bispo, Dom Augusto Álvaro da Silva, um recifense nascido em 8 de abril de 1876 e ordenado sacerdote em 1899. Sendo esta a mesma sede episcopal que depois, em 1918, seria transferida para Pesqueira, temos Dom Augusto oficialmente como seu primeiro bispo e Dom José Lopes, nomeado em 1915, como o segundo titular, embora este consagrado popularmente na cidade como o primeiro.

 

Dom Augusto Álvaro Cardeal da Silva
Luís Wilson nos conta (Roteiro de Velhos e Grandes Sertanejos. Recife: FIAM. 1978) que Dom Augusto era um homem culto e inteligente, poeta e jornalista. Ele chegou até a publicar alguns livros sob o pseudônimo de Carlos Neto. Sua nomeação para bispo da nova Diocese saiu em 20 de dezembro de 1910  e sua sagração ocorreu em 22 de outubro de 1911 na matriz de São José, em Recife, por  Dom Luiz de Brito (tendo como auxiliares Dom Joaquim de Almeida e Dom Francisco, bispos de Natal e do Maranhão, respectivamente).
Também Luis Wilson, citando Álvaro Ferraz (autor de Floresta, Memórias de duma Cidade Sertaneja no seu Cinqüentenário), nos conta também que no dia 16 de novembro de 1911 partiu uma comitiva de Floresta. O grupo era formado por Antônio Serafim de Sousa Ferraz (conhecido como Antônio Boiadeiro), Antônio Ferraz de Sousa e João Barbosa de Sá Gominho, sertanejos acostumados a cavalgar por aqueles caminhos inóspitos. A missão era conduzir o bispo de Mimoso (em Pesqueira), fim da linha da Great Western, até sua nova residência. Sem o apoio do grupo, que conhecia muito bem o caminho e suas pousadas, a viagem seria mais demorada e mais perigosa.
A comitiva deixa Mimoso em 23 de novembro e alcança o último pouso na tarde do dia 28, a fazenda Água-Pé, às margens do Riacho do Navio. Essa parte da história Luiz Wilson ouviu do sertanejo Fortunato de Sá Gominho, conforme consta em sua obra já citada.
O grupo finalmente alcançou seu destino na manhã do dia seguinte. Era então entre 8 e 9 horas da manhã do dia 29 de novembro de 1911. O bispo entrou na cidade acompanhado de mais de 300 cavaleiros e foi recebido pela população com uma grande festa, fogos e a banda municipal, que executava o Hino Pontifício. Na igreja matriz a recepção foi a cargo do vigário José Ribeiro e do vigário de Belém de São Francisco, o padre Phalemppim.
Dom Augusto alavancou o desenvolvimento educacional e cultural de Floresta fundando um colégio, um jornal (o Alto Sertão) e um seminário. No entanto, em 08 de setembro de 1915, ele deixou sua primeira Diocese para dirigir a Diocese de Barra, na Bahia. Em 1924 torna-se arcebispo daquele Estado e ganha destaque no País inteiro ao organizar o primeiro Congresso Eucarístico Nacional e ao se tornar presidente da Comissão dos Congressos Eucarísticos Brasileiros.
Em 11 de janeiro de 1953, Dom Augusto é nomeado cardeal pelo Vaticano, depois de somar uma grande obra  humana e religiosa. Falecido em 1968, foi sepultado com suas vestes de bispo, conforme sua vontade.
Há muito mais a se falar sobre o grande Dom Augusto Cardeal Silva, no entanto a nossa intenção é tratar o assunto de forma sucinta. Assim, depois dessa introdução, vamos à parte que corresponde à história de Pesqueira.
Com a saída de Dom Augusto da Diocese de Floresta, lá ficou como administrador apostólico o padre Frederico de Oliveira, que era vigário de Tacaratu. Ainda naquele ano de 1915, em 21 de novembro, toma posse o novo bispo: Dom José Antônio de Oliveira Lopes, natural de Recife e nascido em 11 de abril de 1868.
Em 1918, no entanto, a cidade de Floresta sofre um duro golpe. O Papa Bento XV, pela bula ARCHIDIOCESIS OLINDENSIS ET RECIFENSIS, de 02 de agosto de 1918, transfere a Diocese de Floresta para Pesqueira. Esse é um ponto no qual muita gente ainda tem dúvida. O fato é que a Diocese de Pesqueira não foi criada em 1918 e sim em 1910 e Dom José Lopes não é bispo desde 1919 e sim desde 1915. A bula papal mudou o endereço da antiga diocese e o seu nome e na verdade não criou uma nova. Naturalmente Dom José Lopes já era o bispo titular, então se mudou para Pesqueira no ano seguinte.
 
O ótimo site Catholic Hierarchy (disponível em http://www.catholic-hierarchy.org) consegue mostrar bem esse processo:
Data
Evento
De
Para
05/12/1910
Instituída
Diocese de Olinda
Diocese de Floresta (instituída)
02/08/1918
Nome mudado
Diocese de Floresta
Diocese de Pesqueira
30/11/1923
Perda de território
Diocese de Pesqueira
Diocese de Petrolina (instituída)
02/07/1956
Perda de território
Diocese de Pesqueira
Diocese de Afogados da Ingazeira (instituída)
15/02/1964
Perda de território
Diocese de Pesqueira
Diocese de Floresta (instituída)
A tradução desta tabela é nossa. E nela pode ser constatado que a antiga diocese de Floresta e a atual Diocese de Pesqueira são técnica e oficialmente a mesma. Vemos ainda a novas dioceses criadas a partir de Pesqueira, inclusive a nova Diocese de Floresta, que não é a mesma de 1910.
 
As informações seguintes, também do site Catholic Hierarchy e mais uma vez de tradução nossa, mostram o histórico dos bispos da diocese em questão:
BISPOS VIVOS:
Bernardino Marchió (Bispo Coadjutor: 27 Mar 1991; Bispo: 26 May 1993 6 Nov 2002) 
BISPOS FALECIDOS:
Adalberto Accioli Sobral † (Bispo: 13 Jan 1934 a 18 Jan 1947)
Severino Mariano de Aguiar † (Bispo: 3 Dec 1956 a 14 Mar 1980)
Adelmo Cavalcante Machado † (Bispo: 3 Apr 1948 a 24 Jun 1955)
Augusto Álvaro da Silva † (Bispo: 12 May 1911 a 25 Jun 1915)
José Antônio de Oliveira Lopes † (Bispo: 26 Jun 1915 a 24 Nov 1932)
Manuel Palmeira da Rocha † (Bispo: 14 Mar 1980 a 26 Mai 1993)
         Com as informações do Catholic Hierarchy apenas confirmamos o que já tínhamos falado.
 
        A mesma bula Criou também as dioceses de Nazaré e Garanhuns. Bento XV, com aquela publicação, fez a Igreja de Pernambuco dar um enorme passo.


         Por Oliveira do Nascimento.

        Acréscimos e correções feitos em 16.04.2018.
         Fontes:
          WILSON, Luís. Roteiro de Velhos e Grandes Sertanejos. Recife: FIAM. 1978


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