O Pioneirismo de Dina Doceira

A fábrica Peixe em Pesqueira dispensa apresentações. A  empresa fundada em 1898 pelo casal Carlos e Maria Brito, durante 100 anos, foi a maior referência da cidade. Evidentemente este é um capítulo especial de nossa história que merece uma matéria a altura. No entanto, essa pequena – mas importante – nota é pela memória da mulher que foi uma das responsáveis pelo sucesso do empreendimento.
No já distante Século XIX, ainda na época do Império do Brasil, vivia em Pesqueira, num lugar afastado do centro, nas imediações do caminho para a fazenda Barra, uma senhora chamada de dona Negu. Ela tinha um pequeno fabrico caseiro de doces de goiaba que fazia enorme sucesso na localidade. Dona Negu era mãe de Dina da Conceição, Maria Frecheiras e Maria Emília. E foram as três que herdaram da mãe a pequena fábrica e também o conhecimento para produção dos doces.
Na verdade o produto era de fabricação artesanal, feitos em tachos comuns e mexidos a mão. Inicialmente tinham forma de barra, de cor escura, açucarado, de corte um tanto difícil, mas de gosto bastante apreciado pela população. Eram vendidos em fôrmas de madeira. Isso é o que nos conta Luís Wilson em Ararobá, Lendária e Eterna (Pesqueira, 1977). No entanto, diz-se que dona Dina conseguiu transformar o doce no que conhecemos hoje, em cor e consistência. O que era opaco tornou-se rosado e translúcido. Se já era saboroso, tornou-se também macio e de boa aparência.

Dina Doceira
Acervo do Museu Luís Neves
Nessa época as três irmãs começaram a vender os doces em latas feitas pelos funileiros da cidade, já que a nova consistência não permitia o corte em barra. Ainda segundo Luís Wilson, a demanda aumentava de uma forma que elas não conseguiam dar conta dos pedidos.
Depois, dona Maria Frecheiras deixou Pesqueira e foi morar em Palmares, lá se dedicando também à fabricação de doces.   Ainda no Século XIX dona Dina passou a trabalhar na casa de dona Maria Brito e para lá levou sua arte. Isso ocorreu por volta de 1897, no mesmo ano que o casal Brito mudou-se do centro da cidade para o chalé construído na antiga “Estrada de Sanharó”. No ano seguinte estava fundada a Fábrica M.B. (Maria Brito), que mais tarde seria conhecida nacional e internacionalmente como Fábrica Peixe.
A importância de dona Dina Doceira para a cultura do doce em Pesqueira é evidente. A pequena fábrica que mantinha em família com a mãe e as irmãs representa o começo dessa tradição, já que não conhecemos registro mais antigo sobre a produção de doces na cidade. O fator principal para o sucesso alcançado foi sua fórmula para transformar  o produto no que conhecemos hoje como padrão.
Dona Maria Brito foi uma mulher de vanguarda, corajosa e empreendedora, mas muito deve ela a dona Dina, que foi o elo de ligação entre a pura arte manual e a modernidade da indústria. Em tudo dona Maria Brito foi inteligente, até em saber a quem ter por companhia.
Marcelo O. do Nascimento
Fontes:
WILSON, Luís. Ararobá, Lendária e Eterna. Pesqueira: Prefeitura Municipal, 1980.

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