Mais sobre Poço Pesqueiro: Casa grande X Sobrado

Sobrado e Casa Grande
Foto: Marcelo Tomaz de Oliveira

Na primeira postagem de setembro de 2010 foi apresentado um resumo sobre o que foi a Fazenda Poço Pesqueiro. Como ficou claro naquela matéria, ainda restam muitas dúvidas sobre a velha propriedade que deu origem a Pesqueira. Mesmo tendo sido a fazenda mais importante da região e tendo parte de suas construções sobrevivido por mais de 200 anos, nada disso foi suficiente para manter suas memórias mais antigas preservadas. O problema chega ao ponto da autenticidade da casa grande ser questionada por alguns.

O trabalho mais importante para entendermos essa questão é a biografia de Anísio Galvão escrita pelo sempre mestre Luis Wilson, o mesmo do aclamado Ararobá, Lendária e Eterna. Nela ele nos dá importantes informações sobre a velha casa, a que hoje é sede da Câmara Municipal, que tem o filho de Zeferino Galvão como patrono. Vamos a elas.

O livro citado chama-se “Anísio Galvão e Outras Notas Para a História de Pesqueira”, escrito  sob encomenda do então presidente da Câmara Municipal José Bonifácio Bezerra da Silva. A publicação saiu em 1986. 
Para José de Almeida Maciel, como pode ser visto em suas publicações (v. Pesqueira e o Antigo Termo de Cimbres, 1980), a casa residência de Manuel José de Siqueira na fazenda Poço Pesqueiro foi a que abriga hoje a sede do poder legislativo municipal, mas para outros (como critica Luiz Wilson, v. pag. 31, Ararobá Ledária e Eterna) foi o sobrado vizinho, que abrigou o antigo Colégio Diocesano até 1927, depois d’A Gazeta de Pesqueira, o mesmo que esteve abandonado por anos e foi restaurado recentemente. No entanto, esclarece o autor: “Nesta última (Casa de Anísio Galvão), ‘de construção feudal ou castelã’, conta-se que havia em seu andar inferior duas salas de frente e atrás um ‘tronco’.”
“Havia ainda na mesma espaçosos salões e sua porta de entrada era larga e pesada”

Se não fosse aquela a casa grande da fazenda, não haveria sentido em ali haver tronco ou outra coisa do gênero.

Ocorre ainda que, de fato, a mesma casa abrigou a antiga cadeia de Pesqueira. Assim, alguns defendem que a velha construção foi erguida em 1864 para tal fim. Não sendo ela então a antiga casa grande da fazenda, a que cumpriu tal função teria sido o sobrado vizinho, por sinal bem menor e com estilo bem mais urbano. Mas essa teoria é contestada por Gilvan de Almeida Maciel. Segundo ele, Sebastião de Vasconcelos Galvão, na sua obra Dicionário Corográfico, Histórico e Estatístico de Pernambuco (no volume II, Imprensa Nacional do Rio de Janeiro, 1910), diz que a sede da fazenda era um sobrado, mas essa informação não é encontrada em qualquer outro lugar. Diz ainda Gilvan que aquela construção (o sobrado d’A Gazeta de Pesqueira) não aparece no inventário dos bens do capitão-mor Manuel de Siqueira, esse é outro fato concreto.

É interessante observar que no pequeno sobrado da Gazeta não há possibilidade de ter havido espaçosos salões ou mesmo uma porta larga, características incompatíveis com seu padrão de arquitetura e medidas.

Outra citação importante sobre o assunto é a de José de Almeida Maciel (em obra já citada):

(Manuel José de Siqueira) “deixou uma morada de casas de sobrado (quando D. José veio para Pesqueira como seu primeiro bispo, transformada em seu palácio episcopal) com capela (a igrejinha de Nossa Senhora Mãe dos Homens, primeira padroeira de Pesqueira, vizinha aos dois sobrados, casa de hospedagem (transformada, mais tarde, pelo Cel. Leonardo de Siqueira em municipalidade em cadeia), senzalas”…



E eis a citação definitiva de Gilvan Maciel:

“a arquitetura tipicamente urbana do sobrado em que esteve o COLÉGIO DIOCESANO CARDEAL ARCOVERDE jamais teria sido escolhida por Manuel José de Siqueira, ou qualquer outro fazendeiro do seu tempo, para servir de sede de sua fazenda. A arquitetura rural da época está, ainda hoje, retratada de forma inequívoca nas inúmeras relíquias que lá na região  se encontram à espera de tombamento”.



Sobre a versão da construção ser de 1864, a mesma vem do fato de, naquele ano, um projeto ter sido feito pelo engenheiro Felix Ramos Lieutier  para “construção” do prédio, que deveria abrigar a cadeia pública do município. No entanto, essa informação não tem fundamento, pois esse projeto não foi executado naquele ano. Apenas em 1879 uma reforma foi feita no prédio já existente, confirmação de que em 1864 a construção já estava lá.

Fachada do projeto do engenheiro Felix Ramos Lieutier

A opinião de José e Gilvan de Almeida Maciel é compartilhada por Luiz Wilson: “Não conheço, na realidade, do século passado e primeiros 40 anos deste século, nenhum sobrado como sede de fazenda do sertão.”

Comparando-se a fachada do projeto do engenheiro Felix Lieutier com imagens posteriores, percebe-se que a REFORMA feita em 1879 não seguiu exatamente o que havia sido previsto, mas há certa semelhança. Na verdade, a falta de imagens de época impossibilita saber o que de fato foi alterado na construção original do Capitão Manoel José de Siqueira.

Somando-se a todas essas informações o fato de que uma construção daquele porte, a maior da localidade, dificilmente teria tido outro uso que não abrigar a sede da fazenda, parece mais que razoável a solução da questão. Desses elementos vem a história, digamos, oficial da casa grande de Poço Pesqueiro. Seja como for, hoje em dia essa polêmica já foi esquecida, felizmente.

Sobrado nos tempos do Colégio Diocesano
Foto: autor não identificado

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Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.