Categoria: Imprensa/comunicações

A Gazeta de Pesqueira

MyFreeCopyright.com Registered & Protected Licença Creative Commons

Cabeçalho da Gazeta de Pesqueira, de 15/11/1904

O primeiro jornal de Pesqueira, pode-se dizer, foi O Serrano, que circulou na cidade entre os anos de 1901 e 1902. Embora simples (era manuscrito em papel paltado e colorido a lápis de cor), foi o marco inicial da imprensa local. A publicação era obra de um grupo de estudantes com idades entre 11 e 12 anos. Tendo como fundadores os irmãos Anísio e Alípio Galvão, filhos do grande escritor Zeferino Galvão, contava ainda com a colaboração dos redatores Glicério e Elpídio Maciel e Aristides Bezerra Cavalcanti. Os repórteres eram Osório Araújo e Pompeu Augusto dos Santos.
Cada exemplar do jornal, que era formada por 4 folhas, era vendido a 3 vintens e saía aos domingos. Seu conteúdo era formado por pequenas matérias, notícias, desenhos coloridos e exercícios escolares. É o que nos conta Luis do Nascimento (em História da Imprensa de Pernambuco, volume XI). Fica claro o pensamento de vanguarda dos jovens estudantes.
Ainda naquele princípio da história da imprensa local, uma briga entre Anísio Galvão e Glicério Maciel fez com que este último fundasse um novo jornal, que recebeu o nome de A Tarde. No entanto, a nova publicação durou pouco, foram oito edições publicadas aos domingos e vendidas a dois vintens. Seu fim foi decretado pela retomada da amizade dos dois companheiros, voltando Glicério a integrar a equipe de O Serrano.
Sebastião Cavalcanti (fundador da Gazeta de Pesqueira) e família.

Embora o jornal de Anísio e Alípio tenha sido de fato o primeiro passo da imprensa em Pesqueira, ele era apenas um “jornalzinho” de estudantes, embora com todos os méritos. Em 1902, no dia 15 de novembro, surgiu então o primeiro grande jornal da cidade: A Gazeta de Pesqueira. Seu fundador foi Sebastião Cavalcanti, na época um importante comerciante, empreendedor e homem de ampla visão. Entre seus colaboradores estavam nomes como Adolfo Santos e Francisco Alexandrino de Albuquerque Melo e Zeferino Galvão, este o maior escritor pesqueirense de todos os tempos.

A redação funcioanava na então rua Marquês do Herval, 26. Seu tipógrado foi Epaminondas Leite, que foi também o primeiro profissional deste tipo na cidade, segundo informa Luis do Nascimento na obra já citada.
     Primeiro sobrado à esquerda: sede da Gazeta de Pesqueira.  
Foto da coleção dos ex-alunos do Colégio Cristo Rei

O primeiro número da Gazeta tinha sido anunciado 15 dias antes, no dia 01/11/1902, por um pequeno jornal chamado O Colibri, que teve apenas uma edição, especialmente para anunciar a novidade que estava por vir. Aquela primeira edição do jornal de Sebastião Cavalcanti trouxe uma matéria de Zeferino Galvão sobre a Proclamação da República, o que veio a calhar, já que era então 15 de novembro.






O semanário tinha 4 páginas, e às vezes saía com páginas extras, em suplemento. Depois aumentou definitivamente de tamanho, passando a sair com 6 e depois com 8 páginas. Em 1903 uniram-se ao jornal Thomaz de Aquino de Almeida Maciel, Benjamim Caraciolo, João Chacon e Lauro Sílvio.

Ainda naquele ano, Sebastião Cavalcanti adquiriu uma máquina de impressão maior, o que permitiu a reformulação do jornal, que passou a ter então 39 x 28 centímetros, maior que o anterior 25 x 18.



Em abril de 1906 Zeferino Galvão assume a direção e propriedade da Gazeta de Pesqueira, tendo seu fundador se mudado pouco tempo depois para a capital do Estado. Naquela nova fase Adolfo Santos passa a ser o redator do jornal e Anísio Galvão torna-se seu revisor. Zeferino, além de diretor-proprietário, acumula as funções de revisor, tipógrafo e impressor. O maestro Thomaz de Aquino de Almeida Maciel torna-se colaborador permanente.
Zeferino Galvão: o homem que derrotou gigantes.

Em 16/02/1908 o jornal muda novamente de formato e passa a ter 51 x 32 cm. Foi também naquele mesmo ano que Zeferino Galvão, a 15 de dezembro, passou a publicar o seu romance Olâmpio, o Corvo, no rodapé da Gazeta. Em 26/08/1909 passa a publicar do mesmo modo o romance Cadete Bonifácio.




Em 26/11/1911 a publicação da Gazeta de Pesqueira é suspensa, só retornando um ano depois. Seu retorno conta com Glicério Maciel (o mesmo do já antigo jornalzinho O Serrano), que na época enviava seus textos de São Paulo, onde vivia.

Em 1916 junta-se à redação o grande historiador José de Almeida Maciel (seu Cazuzinha Maciel) e o cel. Antônio Japyassu.

A publicação circulou até 1921. Logo depois Zeferino Galvão mudou-se para Recife e lá faleceu em 1924.

Em 1952 a Gazeta de Pesqueira voltou sob a direção de Luiz Neves e tendo Pedro Santa Cruz como gerente. Nessa segunda fase houve a colaboração de, entre outros, Aloísio Falcão, seu Oton Almeida, Jarival Cordeiro e ainda contava com o sempre ativo no jornalismo Glicério Maciel.

Houve ainda uma terceira e quarta fase da Gazeta, em 1961 e 1972, quando foi prefeito de Pesqueira Luiz Neves nas duas oportunidades. Nessas últimas fases, que pouco duraram, estiveram a frente da publicação Oton Almeida, Antônio Farias e Rinaldo Jatobá.

Nunca é demais lembrar que foi nas folhas da Gazeta de Pesqueira que notícias foram dadas e batalhas foram travadas entre Zeferino Galvão e a Great Western sobre a passagem da estrada de ferro entre Sanharó e Pesqueira. Se a nada mais o jornal tivesse servido, isso só já seria motivo suficiente para que sua memória fosse mantida até o fim dos tempos. Aquele “jornalzinho” do interior marcou uma época na qual homens simples conseguiam derrotar gigantes.

Por Oliveira do Nascimento.



Fontes:
Luiz Wilson (Ararobá, Lendária e Eterna, 1980);
Pe. José Maria da Silva (A Imprensa na História de Pesqueira, in Pesqueira Secular, 1980).


Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.
Copy Protected by Chetan's WP-Copyprotect.