Categoria: Datas históricas

Os cem anos da Diocese de Pesqueira

Marcelo O. do Nascimento

Em 1917, em visita a Pesqueira, Dom Sebastião Leme, então arcebispo de Olinda, trazia a notícia de que a cidade seria sede de uma diocese. Sua excelência foi recebido pela banda do município e pelos atiradores do Tiro de Guerra de Pesqueira e Alagoinha com os festejos e o entusiasmo que a ocasião exigia. Nos dias que passou na cidade, houve muita movimentação pelas ruas até tarde nas noites iluminadas pela maravilhosa luz elétrica, uma refinada e rara tecnologia na época. Continue lendo

Pesqueira completa 180 anos

Marcelo O. do Nascimento
 
Neste 13 de maio de 2016 Pesqueira faz 180 anos. Embora o município tenha 254 anos, tendo sido instalado em 3 de abril de 1762, foi em 13 de maio de 1836 que ele foi transferido para a então povoação.
O 13 de maio é uma data esquecida, assim como é o 3 de abril. Em Pesqueira comemora-se apenas o 20 de abril, referente à elevação da sede municipal à categoria de cidade em 1880, na nossa opinião, historicamente falando, o marco menos importante entre estes três.
Ainda sonhamos que um dia as duas datas mais antigas possam fazer parte do calendário cívico municipal, o que ajudaria a divulgar Pesqueira como uma cidade verdadeiramente histórica. Afinal, ela não nasceu em 1880 como unidade política, mas em 1836 pela Lei Provincial n. 20, de 13 de maio daquele ano, herdando o município cimbrense criado em 1762.

Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

Pesqueira faz 132 anos de elevação à categoria de cidade

Embora a mudança de status de vila para cidade naquele 20 de abril de 1880 nada tenha mudado em Pesqueira, esta acabou sendo nossa data magna. Não canso de repetir que essa data em nada ajuda a divulgar Pesqueira como cidade histórica, convenhamos que 132 anos é muito pouco para um lugar que assim se diz. Fosse nosso aniversário comemorado em 13 de maio, quando em 1836 Pesqueira herdou oficialmente a sede do município de Cimbres, estaríamos comemorando seus 176 anos. E mais, se considerássemos nossa data magna como sendo a data de criação do município (que se deu em 3 de abril de 1762), estaríamos comemorando incríveis 250 anos!

Antiga Casa de Câmara e Cadeia
Foto: Oliveira do Nascimento

Nunca canso de lembrar que a elevação de Pesqueira a cidade nada tem a ver com emancipação política. Aliás, são coisas completamente diferentes. Emanciparam-se cidades como Arcoverde, Sanharó, Poção, Alagoinha, entre outras. Estas ganharam independência política de Pesqueira, município do qual deixaram de fazer parte. No caso específico de Pesqueira jamais houve emancipação, o que ocorreu foi apenas a mudança da sede do município em 1836, em 1880 mudou-se a categoria da sede do município, que deixou de ser vila para ser cidade, na prática nada sendo alterado. A prova disso é que desde 3 de abril de 1762 temos uma câmara de vereadores (senado que funcionou inicialmente em Cimbres) com seus membros e juiz ordinário. Em 20 de abril de 1880 nada foi mudado nessa estrutura, continuamos com a Câmara, seus vereadores e seu juiz ordinário. A figura do prefeito só apareceria oficialmente em Pernambuco com a Lei Estadual nº 52 de 3 de agosto de 1892, que tornava todos os municípios autônomos, fossem vilas ou cidades.
Oliveira do Nascimento
20 de abril de 2012.
132 anos da elevação de Pesqueira à categoria de cidade.
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Cimbres: 250 Anos

Nos primórdios, a região onde hoje fica a vila de Cimbres e a cidade de Pesqueira era ocupada pela tribo chamada de Ararobá. Depois sua ocupação passou para a tribo Xukuru. Dos Ararobás ficou apenas o nome da serra. Nos arredores viviam os Paratiós, de outra tribo. Estes foram os primeiros donos das terras nas quais vivemos hoje.
Em 1654 João Fernandes Vieira ganhou da Coroa portuguesa um sem mundo de terras, inclusive as ocupadas pelas tribos citadas. Em 1666 mandou seu feitor Manuel Caldeira ocupá-las1. Era o início da entrada da população branca na região. Na mesma época, ainda na segunda metade do século XVII, o padre oratoriano João Duarte do Sacramento fundou a missão de Ararobá junto aos Xukurus e deu o nome de Monte Alegre ao lugar que, progredindo rápido, em 1692 virou sede de freguesia2. No ano anterior, comprovadamente, Monte Alegre era também sede de capitania3 e, em 1762, alcançou o ápice da política administrativa sendo elevada a vila e sede de município, que passou então a ser chamado de Cimbres. Foi um 3 de abril que ficou na história. O ouvidor de Alagoas, dr. Manuel Gouveia Alvares, foi o encarregado de sua instalação. Dias antes foi fixado o edital num mastro convocando todos os moradores para a solenidade. Hoje, graças ao heroísmo de José Florêncio Neto, que o salvou de uma enchente no arquivo da Prefeitura, temos o Livro da Criação da Vila de Cimbres, onde foram registados importantes documentos sobre a vila com datas desde 1755 até 1867, inclusive a ata de instalação. É uma coleção de fontes primárias de pesquisa de valor tão grande que não conseguimos medir. Nela consta inclusive detalhes sobre a construção da casa de câmara, cadeia e ouvidoria, preciosa descrição.
Cimbres durante muitos anos foi o único lugar organizadamente habitado da região, o único centro político do Sertão, terra de autoridades políticas e militares. No entanto a força de um lugarejo três léguas abaixo da serra do Ararobá foi maior. Essa força nasceu da ambição de um homem, um autêntico sertanejo da ribeira do Moxotó: Manuel José de Siqueira. Sua fazenda em 1836 já tinha progredido tanto que acabou arrastando a sede do município de Cimbres serra abaixo. Foi naquele ano que a antiga vila começou a trilhar o caminho rumo ao esquecimento. Da época áurea restou apenas a igreja de Nossa Senhora das Montanhas, que funciona plenamente desde sua construção, mesmo depois da criação da freguesia de Santa Águeda em 1870, esta na então vila de Pesqueira. Como símbolo da política e do poder restou o acanhado prédio do Senado, relíquia da época da colônia, hoje em mau estado, em nada lembrando o auge da sua importância.
Atualmente Cimbres está quieta, num silêncio que apenas as coisas mortas têm. Sua história encontra-se esquecida pela maioria. Para estes o lugar não passa de um ponto no caminho entre Pesqueira e o santuário do sítio Guarda: fato triste e lamentável. Mesmo assim sua arquitetura continua resistindo ao tempo, muitas casinhas dos séculos XVIII e XIX ainda resistem de pé, no entanto passando despercebidas.
Hoje contamos 250 anos desde aquele 3 de abril de 1762. São dois séculos e meio do município de Cimbres, são dois séculos e meio do município de Pesqueira, que é na verdade o de Cimbres que em 1836 mudou de endereço e em 1913 mudou de nome4. Hoje devia haver uma grande comemoração, mas creio que será um dia como outro qualquer. Creio também que a maior parte das pessoas nem saibam desse 3 de abril, pois é data que não consta no calendário do atual município.
Seja como for, Cimbres, eu te reverencio.
Por Oliveira do Nascimento
3 de abril de 2012, aniversário de 250 anos da vila e município de Cimbres.



Fontes:
  1.  BARBALHO, Nelson. Caboclos do Urubá. FIAM/CEHM. Recife: 1977.
  2. A freguesia existente em Monte Alegre (depois Cimbres) não foi criada em 1762 como afirma Alfredo Leite Cavalcanti em sua obra (brilhante por sinal) História de Garanhuns – volume 1.
  3. Esta é outra informação divergente do que conta Alfredo Leite Cavalcanti na obra já citada.
  4. MACIEL, José de Almeida. Pesqueira e o Antigo Termo de Cimbres. FIAM/CEHM. Recife, 1980.


Notas:
  • Sobre a data de criação e localização da sede da Capitania de Ararobá, bem como sobre a criação da freguesia, trataremos em momento oportuno.



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Quantos anos tem Pesqueira?

O tema a ser tratado é simples, porém, por incrível que pareça, ainda gera embaraços até mesmo nas autoridades e políticos locais.
Pode-se dizer que, como unidade política, a Pesqueira atual surgiu em 13 de maio de 1836, quando a Lei Provincial Nº 20 transferiu a sede da Vila de Cimbres para a povoação ao pé da serra, que naquela época já fazia vários anos que sediava suas atividades políticas. A antiga sede, por ficar no alto da serra, oferecia acesso difícil. Já Pesqueira, embora fizesse poucos anos que não passava de uma fazenda de criação, além de oferecer fácil chegada, já tinha alcançado grande desenvolvimento. Para alguns, o capitão-mor Manoel de Siqueira tinha construído sua fazenda Poço Pesqueiro em 1800 propositadamente para o que ela se tornou. E por pouco o velho fundador não viu a fazenda virar sede da vila de Cimbres, pois morreu em 1831, cinco anos antes.
A Lei Nº 20/1836 não fala em Pesqueira se tornar vila, fala apenas na transferência da sede de Cimbres. Entenda-se que Cimbres mudava de endereço, tudo que funcionava lá devia passar a funcionar oficial e definitivamente na povoação ao pé da serra do Ararobá. É com essa lei que a povoação recebe oficialmente o nome de “Pesqueira” e, podemos deduzir, é transformada automaticamente em vila.
Já em 20 de abril de 1880, a Lei Nº 1484, assinada por Adelino de Lima Freire, vice-presidente de Pernambuco, elevou a vila de Pesqueira à categoria de cidade. A publicação confirma ainda o que já havia sido deduzido antes: Pesqueira já era vila em 13 de maio 1836, e acabara de se tornar a 15ª cidade da Província e a primeira de todo o sertão. A próxima elevação de vila a cidade só ocorreria 15 anos depois, com Petrolina em 1895.

O texto da Lei segue abaixo: 

LEI Nº 1.484, DE 20 DE ABRIL DE 1880
O Bacharel ADELINO ANTONIO DE LUNA FREIRE, Oficial da Imperial Ordem da Rosa, Juiz de Direito e Vice-Presidente da Província de Pernambuco.
Faço saber a todos os habitantes os seus habitantes que a Assembleia Legislativa Provincial decretou e eu sancionei a resolução seguinte:
Art. 1º – Fica elevada à cathegoria de cidade a villa de Santa Águeda de Pesqueira, sob a mesma denominação.
Art. 2º – Ficam revogadas as disposições em contrário.
Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da presente resolução pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nella se contêm.
O secretário da Presidência desta Província a faça imprimir, publicar e correr.
Palácio da Presidência de Pernambuco, 20 de abril de 1880, 59º da Independência e do Império.
(a) ADELINO ANTONIO DE LIMA FREIRE
Algumas cidades, a exemplo de São Bento do Una e Serra Talhada, comemoram seus aniversários nas datas referentes à criação de suas vilas, ou, de forma geral, à sua emancipação política, já que na época do Império era essa a denominação das sedes municipais.

São Bento do Una, se tornou vila em 30 de abril de 1860, quando obteve emancipação de Garanhuns, e foi elevada a cidade pela Lei Estadual nº 440 em 8 de Junho de 1900. Serra Talhada emancipou-se de Flores em 6 de junho de 1851, quando tornou-se vila.
Seguindo esse pensamento, Pesqueira deveria ter comemorado, no último 13 de maio, 175 anos de idade, mas comemorou 131 anos de elevação à categoria de cidade em 20 de abril, como tem sido todos os anos.
Os mais desavisados hão de pensar que as duas importantes cidades citadas como exemplo são mais velhas que Pesqueira. No entanto, como explicado, a realidade é o contrário: Pesqueira, seja como vila ou seja como cidade, é mais antiga que ambas.

Na opinião de Gilvan Maciel (ver Crônicas da Pátria Pesqueirense, 2008, EDUFERPE), que é também a minha, a data magna de Pesqueira devia ser o 13 de maio e não o 20 de abril.

É importante lembrar que para Pesqueira jamais houve emancipação política. E, embora a sede da vila (sede do município) tenha sido transferida, o nome não fora mudado de imediato. Tudo que era assinado em Pesqueira era com o nome de Cimbres, esse permaneceu como o nome do município até 1913, quando por uma decisão local, passou a ser “Pesqueira”.

O assunto vila-município-comarca será tratado com mais ênfase posteriormente, pois é motivo de grande confusão entre a maioria dos leitores. Uma abordagem com mais detalhes, acredito, valerá a pena.

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