Autor: Marcelo Oliveira Nascimento

Marcelo Oliveira Nascimento é historiador, formado em Sistemas de Informação com especialização em História e Antropologia. É sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Pesqueira e autor de vários livros sobre a história de Pesqueira e Cimbres. É administrador do Pesqueira Histórica desde 2010, que conta com site, podcast e um canal no YouTube, plataformas todas voltadas à divulgação da história local.

Prédio da Fábrica Rosa em processo de tombamento pela FUNDARPE

Nem tudo está perdido! A FUNDARPE deferiu a proposta de tombamento, no mês de maio passado, do prédio histórico da antiga Fábrica Rosa, fundada pelos irmãos Didier em Pesqueira no ano de 1906. A construção, hoje pertencente ao governo do Estado de Pernambuco, entra assim em regime de preservação, mesmo antes da conclusão do processo. Ainda resta a esperança de que o pouco que resta do nosso patrimônio material seja salvo!
A leitura do edital de tombamento permite conhecer os motivos do deferimento da abertura do processo:

GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
SECRETARIA DE CULTURA
FUNDAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE PERNAMBUCO – FUNDARPE
EDITAL DE TOMBAMENTO

A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco -FUNDARPE, torna público que o Estado de Pernambuco por intermédio do então Secretário de Educação, Dr. Nilton Mota Silveira Filho, deferiu a proposta de Tombamento da ANTIGA FÁBRICA ROSA(Processo SECE nº 0414047-2/2010), ato fundamentado na legislação estadual, CEP/1989, Lei nº 7.970/1979 e Decreto nº 6.239/1980, normas em consonância com a legislação federal pertinente à matéria, CF/1988 e DL nº 25/1937. O bem em questão, de propriedade do Governo do Estado de Pernambuco e cedido parcialmente à Prefeitura Municipal de Pesqueira conforme previsto na Lei nº 11.980, de 07 de maio de 2001 , localizase à Avenida Comendador José Didier, números 166 a 308, Pesqueira (Agreste Central). A incidência deste Instituto Jurídico de proteção pelo Poder Público Estadual sobre o mencionado bem decorre da importância e características especiais como patrimônio construído, detentor de relevante expressão cultural. A Fábrica Rosa possui volumetria e características arquitetônicas preservadas, tornando-se, assim, um notável exemplar do complexo industrial que impulsionou o desenvolvimento e a história da cidade de Pesqueira. Cabe ressaltar a conservação do seu conjunto de edificações e equipamentos que se coadunam com os objetivos do Tombamento, agregando maior valor ao monumento. Pelo exposto, salienta que a partir da abertura do processo de Tombamento, fica assegurado ao referido imóvel, em exame, até a resolução final, o mesmo regime de preservação dos bens efetivamente tombados, conforme estabelecem dispositivos das normas infraconstitucionais acima citadas.

Recife, 23 de maio de 2013.
Severino Pessoa dos Santos
Diretor-Presidente

Feira do Doce e da Renda, 1992
Imagem: Evandro Wanderlei




Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

O Poço Pesqueiro, onde era?


Os escritores que já se aventuraram a contar a história de Pesqueira são unânimes em afirmarque a tão citada fazenda fundada por Manuel José de Siqueira recebeu o nome de “Poço Pesqueiro” em referência aum verdadeiro poço1existente nas proximidades. É unânime também a afirmação de que o poço era usado como lugar de pesca pelos índios da tribo Xukuru, daí o nome de “poço pesqueiro”, pois assim o era.


Quando da fundação da fazenda, Manuel José de Siqueira teria tomado o nome para batizá-la.
Esse é o tipo de informação que vai passando verbalmente de geração para geração, já que, não sendo um bem material e sim natural, não há nada a se registrar em documento oficial. A citação mais antiga na qual aparece o nome do lugar onde a fazenda fora instalada data de 1801 e figura como “sítio Pesqueiro” (1). Trata-se de documento de doação da propriedade a Manuel José de Siqueira feita por seu sogro Antônio dos Santos Coelho da Silva, capitão-mor de Cimbres e proprietário da riquíssima fazenda Jenipapo, hoje território do município de Sanharó.
Em documentos posteriores o lugar aparece ora como “lugar da Pesqueira”, ora como “lugar do Pesqueiro”, dentre outras combinações.
Sabemos que o núcleo da fazenda ficava exatamente onde hoje se localiza o quarteirão da rua Cardeal Arcoverde, que vai da câmara de vereadores à capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens. Algumas construções daquela época continuam de pé como provas inequívocas da localização.
Sobre o local do poço, a maioria concorda que ficava no curso do riacho Santana, que nasce na serra do Ararobá e corre nas proximidades do núcleo do primitivo núcleo da fazenda, hoje nas imediações do Seminário São José. No entanto, existe outra corrente de opinião que afirma ter sido o poço no riacho Salgado, que também corre, hoje canalizado, nas proximidades do antigo núcleo, por traz das antigas construções, onde hoje fica a rua vigário Espinosa. Para estes o poço ficaria, numa localização atual, cerca do antigo complexo da fábrica de doces Tigre.
O principal defensor dessa tese era o padre Frederico Maciel, que desenhou inclusive um mapa dando a localização exata do poço, que, segundo ele, ficava em frente à fábrica Tigre, um tanto à esquerda, na curva do riacho Salgado antes da antiga passagem de Pesqueira (2).
Ainda segundo Maciel, o poço:
Foi totalmente aterrado pelo mesmo riacho carreando detritos e areia, e pelo homem com retraços de folhas de flandres da seção de lataria das fábricas de doce.
O mais interessante da citação de Maciel talvez seja a descrição do poço “em forma de lagoa oblonga e rasa”. Não sei de onde ele tirou essa informação, mas é provável ter ouvido de alguém que tinha conhecimento de sua existência.
Não dá para descartar totalmente essa possibilidade, pois sobre o mesmo assunto há uma história bastante curiosa contada por Napoleão Estanislau, antigo funcionário da Prefeitura Municipal. Ele dizia que o poço pesqueiro devia ficar por perto da antiga Escola Profissional e que ali um poço havia sido aterrado. Ali, certa vez foi encontrado um para-choques de um Ford 1927 ou 29!
Como se vê, parece que realmente existiu um poço naquele trecho do riacho, pois a história de Napoleão Estanislau coincide com a história contada pelo pe. Frederico Maciel (em obra já citada), embora não possamos dar a certeza de que fosse o famoso poço pesqueiro. Como neste caso as fontes orais são um grande apoio para compreendermos os fatos passados, fica o interessante registro.
O que falta de verdade para o poço pesqueiro é se chegar a uma conclusão final sobre sua localização, ao menos aproximada, e se fixar um marco no local. Serviria de guia para o público em geral e para os possíveis pesquisadores.
Marcelo O.N.
24 de junho de 2013, dia de São João.
1Na região, local profundo no curso de um rio ou riacho dá-se o nome de poço.
Referências bibliográficas
(1) Carta do ouvidor-geral da Capitania de Pernambuco ao Rei D. João V. Aquivo Histórico Ultramarino. 27 de março de 1732.
(2) Livro da Criação da Vila de Cimbres (1762-1867). Leitura paleográfia de Cleonir Xavier de Albuquerque da Graça e Costa. CEHM/FIAM. Recife: 1985, pg. 266-267.  
Licença Creative Commons


Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

Como era o IPSEP

Um dos símbolos do serviço público de Pesqueira funcionava na avenida Ésio Araújo. Era a unidade local do antigo Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Pernambuco, o IPSEP.
No meu tempo de criança, havia no jardim da frente uma torneira onde a molecada tomava água depois de sair do antigo CERU e antes de “subirmos” para o bairro de Baixa Grande, isso entre 1985 e 87.
O IPSEP deve ter funcionado em Pesqueira por pelo menos uns 30 anos. Quando fechou no ano 2000, com sua reformulação e transformação no Instituto de Recursos Humanos – IRH1, restou-nos apenas o prédio como lembrança. No mesmo lugar, pouco depois, foi instalado o Condomínio de Cursos e posteriormente a Agência do Trabalho do SINE, atualmente dividindo espaço com um posto de atendimento de saúde da Prefeitura.
O prédio não tem nenhuma característica arquitetônica especial, mas tinha certo significado, o que vem sendo apagado a cada dia por alterações na fachada. Outro capítulo desse atual momento é a pintura de gosto duvidoso. O processo de alterações pode ser visto na sequência de fotos no fim da matéria.
A ocupação do imóvel por parte a Agência do Trabalho é louvável. Pior seria vê-lo fechado e abandonado, mas seria melhor ainda se estivesse bem cuidado, do jeito que ele merece.

Fontes:
1Jornal do Commercio. Recife. Notícia de 02/06/2000.

Licença Creative Commons

Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

Coronel Candinho, o 2° Barão de Cimbres | por Marciana Nascimento

Cândido Xavier Pereira de Brito
O 2o. Barão de Cimbres
Uma personalidade da Pesqueira do século XIX que merece ser lembrada é o Coronel Cândido Xavier Pereira de Brito, o Barão de Cimbres, ou Coronel Candinho, como era conhecido entre os mais próximos.
O 2° Barão de Cimbres nasceu em 1822, tendo chegado a Pesqueira por volta de 1849, quando fixou residência na fazenda Caianinha, onde ficou até mudar-se para a Fazenda Gravatá, antes pertencente ao comendador Antônio de Siqueira Cavalcante, de quem o coronel comprou a fazenda na qual viveu até sua morte, na companhia de seus escravos e funcionários, entre eles, seu pajem que o acompanhava nas suas viagens e passeios, e Luíza, sua governanta, mais conhecida em Pesqueira pelo apelido de Caêta.
Coronel Candinho é um dos personagens mais fascinantes da história de Pesqueira. Diz-se que mesmo sendo detentor do título de Barão de Cimbres, tendo sido chefe do partido Liberal no município, juiz municipal e de órfãos e ocupando o posto de coronel comandante da Guarda Nacional, não se via nele traço algum de ostentação de orgulho diante de sua projeção local, sendo descrito por José de Almeida Maciel (no livro Pesqueira e o Antigo Termo de Cimbres) como um homem polido, de maneiras fidalgas, de espírito religioso e caritativo, de conversação culta, fluente, educada e agradável.
O 2° Barão de Cimbres era religioso e muito caridoso, sendo esta característica de sua personalidade notada principalmente no tratamento em relação aos escravos, pois relata-se que jamais maltratou ou deixou maltratar qualquer um destes. Também em relação a isso, é necessário lembrar que segundo Luís Wilson (em Ararobá, lendária e eterna), após a abolição, o Barão comprou a fazenda Cachoeira e dividiu a propriedade entre seus escravos pais de família de modo que cada um destes passou a ter seu próprio pedaço de terra.
Por ocasião de sua morte, em 10 de janeiro de 1894, ficou ainda mais evidente o espírito caritativo do Barão, quando em testamento deixou divididos os seus bens não só entre os parentes, porém também entre seus escravos e funcionários, além de ter doado ainda uma parcela de sua herança para a construção de um cemitério onde seriam enterrados os pobres.
Segundo diversas fontes, a maior parte de seus bens foram deixados a seu sobrinho José de Sá Pereira ou Juca, inclusive a fazenda Gravatá, a qual vendeu no mesmo ano de 1894. Lamentavelmente Juca teria se desfeito rapidamente de toda a herança deixada pelo tio.
Coronel Candinho foi um homem de grande importância local e politicamente ativo, porém, suas características que mais chamam a atenção dizem respeito a sua maneira de tratar o próximo, mostrando que o Barão acima de tudo era amante da terra onde viveu e de sua gente humilde. Uma prova incontestável do seu amor por esta terra, foi sua vontade manifestada em testamento, de ser enterrado na igreja de Jenipapo caso morresse em Gravatá. Como faleceu em Recife onde havia passado seus últimos dias tratando de sua doença, foi enterrado lá mesmo em sua cidade natal em um mausoléu no cemitério de Santo Amaro.
Para descrevê-lo, gostaria de usar as palavras do escritor Guilherme Auler, que na minha opinião o descreveu de forma brilhante:
“Religioso, temente a Deus e confiante na sua misericórdia divina; tradicionalista, amigo da sua terra, querendo ser sepultado onde vivêra; caridoso, amigo dos pobres e lembrando-se dos mesmos até que eles tenham uma última morada; senhor que premeia os seus alforriados escravos; bom amigo, bom parente, que a todos contemplou na sua generosidade derradeira”
Que homens como este nunca sejam esquecidos. 
20 de abril de 2013.
133 anos da elevação da vila de Pesqueira a cidade.

Por Marciana Nascimento
Fontes:
Livro Pesqueira e o Antigo termo de Cimbres, de José de Almeida Maciel
Livro Ararobá, lendária e eterna de, Luis Wilson
Livro Caboclos do Urubá, de Nelson Barbalho


Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

A Casa José Araújo, no singular

Poucas coisas lembram tanto o passado de Pesqueira quanto a Casa José Araújo, no singular mesmo; no singular porque foi a primeira e durante anos a única loja do que depois se tornaria uma grande rede.
Seu Bianor e seu Joaquim
José Araújo e Albuquerque, conhecido largamente como José Araújo, nasceu em 19 de março de 1870. Ele era filho do major Tomás Araújo e Albuquerque e dona Guilhermina Filoteia de Melo e casado com Maria Belas Magalhães, chamada de dona Santa.
Era uma época pré-industrial quando se sobressaia em Pesqueira o comércio, então seu motor de desenvolvimento. Muitas famílias vinham de outros lugares para cá e foi assim com a família de José Araújo, que migrou do Brejo da Madre de Deus para a promissora terra ao pé da serra do Ororubá, onde com espírito empreendedor ele abriu, em 1890, no dia de São José, sua lojinha de tecidos a qual deu o singelo nome de Casa José Araújo.
Como sabemos, a pequena loja era concorrente do Bazar Pesqueirense (esta de 1870, depois loja Tito Rego), e posteriormente da Loja Santa Águeda (de seu Cazuzinha Maciel), mas devia haver outras, pois era tempo de quando quase tudo o que se precisava tinha de ser feito a mão e individualmente.
A Casa José Araújo foi o empreendimento mais duradouro de Pesqueira, tendo funcionado ininterruptamente por 106 anos, de 1890 até 1996, quando fechou as suas portas. Foi mais que a Fábrica Peixe, que fechou logo após completar 100 anos. Foi mais de um século vestindo os pesqueirenses, enfeitando e equipando suas casas, já que depois produtos de outras linhas foram incorporados ao negócio: eletrodomésticos, decoração, etc.
Casa José Araújo em 1939
A marca José Araújo cresceu bastante, alcançou primeiro as pequenas cidades vizinhas de Pesqueira, depois parte do Nordeste e até alguns lugares no Sul do País. Àquela altura o nome já era literalmente plural: “Casas José Araújo”, e esteve presente, dentre outras cidades em: Maceió, João Pessoa, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Havia unidades em várias cidades do interior nordestino, em Recife havia em vários endereços. No total foram dezenas de filiais: um fenômeno.
Impossível não lembrar também das campanhas publicitárias produzidas pela Itaity Publicidades para a tevê, algumas tendo se tornado clássicos imortais como os comercias das bonecas de pano (“As coisas do meu Nordeste são bonitas de lascar…”), a do carnaval (“Eu quero a minha mãe, onde ela está?…”) e de N. Sra. da Conceição (“Senhora da Conceição, minha mãe, minha rainha…”). Houve também um comercial em homenagem aos 100 anos de Pesqueira, veiculado em 1980.
Atualmente o prédio de José Araújo ainda existe em Pesqueira, tanto a parte inicial, menor, quanto a parte ampliada, onde ainda, embora por baixo de painel de uma nova loja, existe o letreiro original no singular: “Casa José Araújo”.
É justo lembrar também da solidariedade da família Araújo, especialmente na pessoa de seu José Araújo Filho, que manteve durante décadas o lar dos idosos que levava o nome de sua mãe, além disso, o cuidado que ele tinha com o jornal Nova Era, dirigido pelo Pe. José Mariai. Embora já morando há muito tempo em Recife, seu Zé Araújo Filho nunca esqueceu de Pesqueira e de suas raízes.
Falar sobre a história local, sobre um lugar tão próximo de nós, faz com que nossas emoções se misturem a pesquisas e documentos históricos; em alguns casos se torna inevitável. Assim, é impossível falar de Zé Araújo e não lembrar de seu Joaquim e seu Bianor, creio que as duas figuras mais tradicionais em toda a história da empresa.
Seu “Joaquim da Loja”, como era chamado, dedicou impressionantes 66 anos de sua vida à empresa. No informe de Luiz Nevesii, em 1980 ele recebeu de José Araújo Filho uma homenagem pelos 50 anos de trabalho na loja, no entanto, como sabemos, ele permaneceu trabalhando lá 16 anos mais, até o fechamento. Seu Joaquim, falecido em 1º/02/2002, estaria hoje com 99 anos de idade.
Seu Bianor, não menos marcante que seu Joaquim, entrou em José Araújo em 1939, pouco depois do colega, formando a dupla mais duradoura e brilhante que o comércio de Pesqueira já viu. Creio ser esse um caso, senão único, bastante raro no País.
Busto de José Araújo, em Pesqueira
O atendimento, fui testemunha, era do jeito que o povo gosta, o cliente era sempre o foco do negócio, talvez por isso tenha alcançado tamanho sucesso. A loja era aconchegante, os vendedores simpaticíssimos, tenho a impressão que eram escolhidos a dedo. Todos bem alinhados, de camisa e gravata, sempre prontos a vender o melhor corte Zé Araújo. Sem dúvida os tecidos foram os produtos mais marcantes e o carro chefe da loja.
Passar em frente ao antigo prédio e não sentir saudade, só para quem não conheceu a loja Zé Araújo. Ainda hoje tenho na memória a figura dos vendedores junto aos cortes de tecido (especialmente Carlos, hoje taxista), do senhor que nunca soube o nome (pai de Laudivan, ex-colega do CERU), mas que mantinha a loja sempre impecável, e de seu Joaquim e seu Bianor na porta, mirando o tempo. Bons tempos.
Hoje a marca se mantém viva na Estrada do Arraial, em Recife, guardando o mesmo padrão de qualidade que lhe fez fama e proporcionando a alegria dos que tiveram o privilégio de conviver com a loja especialmente em Pesqueira, pois tenho certeza que para nenhuma outra cidade ela foi tão importante quanto. Contamos agora seus 123 anos. E que venha mais um século, pois seu Zé Araújo merece!
Pesqueira, 19/03/2013.
Dia de São José.

Marcelo Oliveira do Nascimento.
FONTES:
iSilva, José Maria da. José Araújo – Não se descarte a memória. In Pesqueira Notícias, de fevereiro de 1997.
iiNeves, Luiz de Oliveira. Caçuá de Lembranças. Ed. do autor/CEPE. Recife: 1981, pg. 43.

Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

Vídeos de Dom Palmeira em 1996

Em maio de 2012 disponibilizamos um vídeo de Dom Manuel Palmeira, bispo de Pesqueira, celebrando uma missa na Catedral de Santa Águeda em 3 de março de 1996. Esse vídeo foi gentilmente cedido por Braz Araújo, do blog   http://www.tudopb.com, que agora cedeu também a segunda parte do vídeo.

Abaixo seguem os dois vídeos:

PARTE 1

PARTE 2

Nossos agradecimentos a Braz Araújo e ao blog   http://www.tudopb.com.


Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

Como era o Club dos 50

Uma breve introdução

Algumas pessoas têm me cobrado pela falta de imagens antigas no site. De fato sua presença dão bastante significado à causa do passado de Pesqueira, principalmente se forem acompanhadas dos comentários pertinentes.
Por essas razões dou início a essa série de matérias com foco em antigas fotografias. A intenção é mostrar como a cidade era e como está agora. Não quero de forma nenhuma condenar os agentes da desfiguração por qual Pesqueira tem passado, mas alertar a sociedade (aqui incluo todos: cidadãos comuns e autoridades) para o fato tão lamentável.
Para uma cidade que se diz histórica, o que se espera é que ela apresente a seus visitantes um mínimo de relíquias de seu passado. Sinceramente acho que um turista pode se sentir desapontado ao encontrar a cidade histórica repleta de construções modernas e sem sentido.
É bom lembrar que turista ou visitante que sai com boa impressão faz boa divulgação (com rima e tudo). E quem ganha com isso: todos que vivem aqui e daqui.
Mas também, graças a Deus, nem tudo é mau, pois temos bons exemplos de preservação, como veremos posteriormente.
Assim, depois dessa pequena apresentação, vamos à primeira matéria da série.
Como era o Club dos 50

Clique na imagem para ampliar

A história não escolhe partido, religião, meio social ou etnia. O Club dos 50 (sem “e” mesmo) foi fundado nos anos 30 por Francisco Roberto Matos1e funcionou até sua desativação numa casa na rua Duque de Caxias que pertenceu a José Pita. Sua fachada era ainda do século XIX, mas foi reformada ao receber o clube. No topo foi feito o marcante letreiro, que, sem dúvida nenhuma, chamava bastante a atenção. Nos anos 80 o prédio foi remodelado para ser usado como comércio, o letreiro desapareceu, restou na calçada o ladrilho que formava o nome. Hoje, nem isso resta. A fachada do clube não era a original da construção, mas já fazia parte do cenário de Pesqueira há 60 anos.
Amados por uns, odiado por outros, o fato é que o Club dos 50 perdeu infelizmente o último vestígio de sua existência material, ficou agora apenas na memória de alguns e nas velhas fotografias.
Fontes:
1MACIEL, Gilvan de Almeida. Club dos 50, in Crônicas da Pátria Pesqueirense. EDUFERPE. Recife: 2008, p.63.


Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

Os 100 Anos da Chegada de Dr. Lídio Paraíba

Dr. Lídio Paraíba

Dr. Lídio Paraíba nasceu em Uruguaiana-RS em 5 de junho e 1890. Formado em medicina no Rio de Janeiro em 1911, chegou a Pesqueira no ano seguinte. Em resumo, em 2012 completa-se 100 anos de sua chegada à terra que não o viu nascer, mas que ele adotou como sua talvez como nenhum outro cidadão jamais chegaria a fazer.

A Pesqueira de 1912 era uma progressista povoação. Contava já com as fábricas Peixe e Rosa, duas indústrias bastante desenvolvidas, e um comércio famoso em toda a região. Àquela altura a cidade já contava também com a Casa José Araújo (fundada em 1890) e com o Bazar Pesqueirense (depois O Barateiro) do pai de seu Tito Rego, dentre outros estabelecimentos. Embora um centro importante , tanto comercial como industrial (já contava inclusive com uma linha de bondes!), a cidade era ainda um lugar de urbanismo precário, com ruas de terra e sem energia elétrica (que chegaria em 24/12/1913). A saúde pública praticamente não existia, tamanha a ausência de estrutura, não havia hospital ou outro centro de saúde com competência suficiente. Foi esse o cenário que Dr. Lídio encontrou ao descer de um dos vagões da Great Western, atendendo o convite feito pelo farmacêutico Xavier de Andrada.
Dr. Lídio atendeu seus primeiro pacientes na Farmácia Santos, de Manoel Cristóvão dos Santos, depois se instalou no então Largo da Matriz (hoje Praça Dom José Lopes) e por último na antiga rua 15 de Novembro (hoje rua Dr. Lídio Paraíba, em sua homenagem), onde por fim fixou seu consultório.
Para dr. Lídio gente era gente e ponto final: rico, pobre, preto, branco, jovem, velho, cristão ou ateu. Conta-se que ele nunca se negou a atender qualquer um que fosse, inclusive sem se importar com pagamento. Ele não parava de passar pelas ruas empoeiradas de Pesqueira no seu automóvel guiado pelo motorista Pedro Miro, sempre a caminho de atender algum pesqueirense enfermo, em qualquer bairro, da Pitanga ao Prado, a qualquer horário do dia ou da noite.
Ele foi o médico de Pesqueira durante meio século, dedicou quase toda sua vida a ela e a seus cidadãos. Foram incontáveis os pesqueirenses que passaram por suas competentes mãos. Foi em Pesqueira também que ele realizou um grande feito, um sonho imenso que se tornou realidade: a construção do hospital que hoje leva seu nome, do qual foi diretor por 20 anos.
Essa pequena nota, insignificante em tamanho, mas realmente sincera, dedico a um homem que dedicou uma vida inteira a um lugar, que o amou despretensiosamente como se fosse dele. Naquele 17 de fevereiro de 1963 Pesqueira teve com certeza um pedaço seu enterrado.
Homenagem maior lhe fez a historiadora Eulina Monteiro Maciel, de Jaboatão dos Guararapes, com o livro “Tributo ao Médico Dr. Lídio Parahyba – Uma voz na Assembleia Legislativa”, obra que brevemente terá lançamento em Pesqueira. Uma jaboatanense fez então o que nenhum pesqueirense foi capaz de fazer. No entanto, o que importa de fato é que Dr. Lídio não foi esquecido.
Pesqueira, 31/12/2012.
Em memória de Dr. Lídio Paraíba.
 
Marcelo Oliveira do Nascimento.
Fontes:
WILSON, Luís. Ararobá Lendária e Eterna. CEPE/Pref. De Pesqueira. Recife: 1980.
SANTOS, Luiz Cristóvão dos. Doutor Lídio – O médico do Sertão. Matéria escrita para o Diário de Pernambuco por Luiz Cristóvão dos Santos. Data não identificada.
<hr ‘style:=”” blue’=”” color=””> Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

A Senzala de Pesqueira

A mão-de-obra escrava era presença certa nas fazendas do século XVIII e XIX (antes da Abolição de 13 de maio de 1888) e com Pesqueira não ocorreu diferente. Até alguns homens de caridade, como era o caso do Barão de Cimbres, dispunham de alguns escravos nem que fosse para atividades domésticas, para manutenção da propriedade, companhia, etc.

A senzala do Barão ficava junto à residência na fazenda Gravatá (hoje pertencente à família Didier). Não conheço outra fazenda que a senzala fique assim localizada em relação à casa grande. É sabido que ele nunca maltratou qualquer um dos escravos e que também costumava assistir aos seus festejos da varanda da casa i. Alguns dos seus serviçais foram citados em seu testamento, e deles, apenas Caêta, a governanta, não era escrava (1). Esse tratamento diferenciado era exceção, seja qual fosse o lugar.

A senzala de Pesqueira deve ter sido construída por volta de 1800, pois em 1801 Manuel José de Siqueira, fundador da primitiva fazenda, já estava estabelecido, casado e já com um filho nascido*. Da construção não encontramos hoje nenhum vestígio, no entanto até algumas décadas atrás ainda havia uma fração dela. O lugar em certa época foi usada como depósito de lixo pela prefeitura (2). Essa fração restante pode ser vista em velhas fotografias do centro de Pesqueira datadas dos anos 20. Em outra, datada de 1911, ela aparece ainda inteira, no entanto pelos fundos. Ela ficava na “rua de baixo”, bem em frente à Casa da Câmara e Cadeia, lugar estratégico para que o proprietário pudesse vigiar o comportamento dos escravos (2), isso se considerarmos que a Casa da Câmara era mesmo originalmente a casa grande da fazenda, tese da qual sou defensor, como já mostrei em outras matérias.
A senzala, por completo, ficava onde hoje estão os números 100 e 112 da rua Cardeal Arcoverde e seguia o padrão encontrado em várias propriedades espalhadas pelo País: uma tira de pequenas casas com algumas portas e janelas de frente coberta por duas águas, construção geralmente bastante ordinária, incompatível com o restante da fazenda. Esse padrão pode ser visto inclusive na fazenda Gravatá, no entanto creio que o material usado neste caso era de qualidade acima da média, pois a senzala continua de pé até hoje, assim como a casa grande do Barão.
Em Pesqueira havia ainda uma senzala de padreação e o casebre de Congo, o reprodutor da fazenda (3). Estas informações são do Pe. Frederico Maciel, que fez uma tentativa (não sei ao certo se bem sucedida ou não) de reconstituir a Pesqueira de mil oitocentos e pouco.
Marcelo Oliveira do Nascimento.
Fontes:
  1. WILSON, Luis. Ararobá, Lendária e Eterna. PMP/CEPE. Pesqueira: 1980.
  2. VALENÇA, Eduardo. Comentário sobre a Casa Grande. Disponível em http://pesqueirahistorica.blogspot.com/2011/12/comentario-sobre-casa-grande.html
  3. MACIEL, Frederico Bezerra. Editora Universitária da UFPE. Recife: 1982.
iNASCIMENTO, Marciana. A Casa Grande da Fazenda Gravatá. Disponível em http://www.pesqueirahistorica.com/2012/07/a-casa-grande-da-fazenda-gravata-por.html
*O primeiro filho de Manuel José de Siqueira nasceu em Pesqueira em 1801. Evidentemente naquele ano ele já estava casado.

Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.
Copy Protected by Chetan's WP-Copyprotect.