O Prédio do Senado de Cimbres [fragmento]

Por  Marcelo Oliveira do Nascimento

*Esse artigo  é um  fragmento
do livro inédito Pesqueira Histórica – Volume 2

  As chamadas casas de câmara e cadeia são talvez o símbolo mais importante do poder das antigas vilas do Brasil. Combinado ao pelourinho e a igreja matriz, formavam seu conjunto administrativo, judicial, legislativo e religioso, sendo estas as bases de seu funcionamento.

 Tais funcionalidades obrigavam as construções a ter um formato padronizado. Eram formadas geralmente por dois pisos. Na parte de baixo funcionava a cadeia, com duas ou mais janelas com grades que davam para a frente. Essas janelas davam para as celas, que eram duas, uma para cada sexo. No piso de cima funcionava a administração e a justiça.
Em Cimbres, o chamado prédio do senado da câmara não segue esse padrão, como pode ser comprovado facilmente com uma análise visual. Ele é formado por um único piso, uma construção bastante modesta que, aparentemente, não tem espaço suficiente para abrigar todas as funções necessárias ao funcionamento da vila.
O que ocorreu no caso de Cimbres é que seu alvará de criação determinou que o governo fosse instalado provisoriamente num salão pertencente aos padres do Oratório de São Filipe Neri. O senado deveria funcionar ali até que a sede definitiva fosse construída, o que acabou nunca acontecendo.
Polêmica é coisa que não falta na história local. Entre tantas existe adata daconstrução do prédio do senado cimbrense. Emborahajam dúvidas,ele deve datar bem antes de1836, já que naquele ano a sede do munício foi transferida para Pesqueira depois de anos de indicativos de que o fato ocorreria. Com certeza o governo não construiria um prédio com a previsão de, em poucos anos, ser desativado.
A primeira determinação quando da criação do município era que o novo governo devia aproveitar a casa dos padres oratorianos para se instalarenquanto o prédio adequado não fosse construído: ficará para as audiências e Câmara a sala nova e grande que os mesmos padres missionários acrescentaram às casas de sua residência” (66). Percebe-se que o espaço que devia ser usado era uma sala anexa à casa de residências dos padres. Entendemos que não era uma sala dentro da residência e sim um acréscimo à estrutura já existente. O que não está claro é se esta sala se ligava diretamente à casa ou se era isolada da mesma. No trecho seguinte temos outra pista: “nestes termos lhe ficará sendo supérflua [ao novo vigário] a dita nova sala e casa” . Parece que eram estruturasindependentes a casa e a dita sala. E ainda parece que a casa era um sobrado pois os oratorianos “deixam casas bastantes e de sobrado para a acomodação muitolarga de qualquer outro pároco”.
O que se vê atualmente na área ao redor do prédio do senado em Cimbres são algumas casas residenciais de construção recente. Se havia uma casa antiga ou sobrado que pertencera aos oratorianos, há muito tempo não existe mais. Dessa forma não podemos garantir que o prédio seja a sala citada no texto de 1762. No mais, o prédio foi construído isolado por todos os quatro lados.É interessante observar também que o prédio tem divisórias internas bastante primitivas, com madeiramento das forras das portasnos mesmos moldes da porta de entrada bem como das janelas externas. Esse detalhe o invalida como “sala”, a menos que as divisórias tenham sido feitas depois, mas não é o que parece.
Durante o passar dos anos, é natural que muitas histórias apareçam e, até que se obtenha documentação para validá-las, nunca saberemos sobre sua autenticidade. O velho prédio do senado, além de não conseguir comprovar sua data de “nascimento”, como se não conseguisse descansar em paz, é envolto num mistério, tudo depois de uma reforma feito pelo então prefeito do município Ésio Araújo. O que o ocorre é que alguns dizem em Pesqueira que durante aquela obra o prédio foi literalmente reconstruído. Há quem diga que ele foi demolidoe em seguida refeito tijolo a tijolo!

A primeira pessoa a questionar esta versão dos fatos foi Marciana Nascimento, que estudou a única fonte sobre a obra encontrada até agora: o Álbum do Município de Pesqueira (1948-1951).

De fato, não parece ter havido reconstrução e sim reforma. Pelo menos é isso que encontramos documentado, além do fato de não encontrarmos lógica na demolição para posterior reconstituição. Qual a vantagem de uma obra deste tipo?
Talvez essa história, que acredito ser apenas lenda, tenha surgido pelo uso inadequado (?) do termo “reconstrução”. Encontramos largamente na história de Pesqueira esse termo sendo usado como reforma, melhoramento, recuperação, etc. Foi assim com a igreja matriz de Cimbres, com a capela de Pesqueira, com o antigo talho municipal, dentre outros casos.

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Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.