Nossa Senhora das Montanhas

Imagem cedida por Pe. Eduardo Valença

Dentre vários assuntos polêmicos a respeito da nossa história está a construção da igreja de Nossa Senhora das Montanhas em Cimbres. Não vou nem entrar na questão da reforma/reconstrução de 18431, não no momento. O que quero falar agora é sobre o início de tudo, da construção original.
Conforme eu mesmo já registrei2, alguns historiadores afirmam que a igreja foi construída originalmente por Lourenço das Neves Caldeira e sua esposa, que apoiaram os padres da congregação de São Felipe Neri nesta obra. No entanto nenhum deles dá data exata da construção.
Altar da Matriz de Cimbres
Sabemos que em 1680 já havia em Monte Alegre (a futura Cimbres) culto a Nossa Senhora das Montanhas, conforme o comentário de José Antônio Gonsalves de Mello no volume 6 dos Anais Pernambucanos de Pereira da Costa, falando sobre as terras de João Fernandes Vieira:
“Que essas “novas terras” deviam abranger a região do Ararobá pode concluir-se pelas extensas propriedades que ele ali possuía já no ano de 1680, onde tinha como seu representante o Capitão Manuel Caldeira Peixoto, conforme documento datado da Aldeia de Nossa Senhora das Montanhas 28 de dezembro de 1680: Tombo dos bens da Congregação do Oratório do Recife fls. 187v-188.”
Temos também um registro do 2o. Cartório de Garanhuns (Livro 11, fls. 80):
“Saibam quantos este público instrumento de carta de alforria virem como no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e vinte e sete anos nesta Capitania do Ararobá no sítio da igreja de Nossa Senhora das Montanhas missão da dita capitania onde eu tabelião fui vindo aí perante mim tabelião…”
A primeira missão fundada pelo Pe. João Duarte do Sacramento em Pernambuco foi a de Limoeiro em 1662, onde com o a poio do governador Brito Freire, que era seu amigo pessoal, construiu a primeira igreja do Agreste3. A igreja da missão de Ararobá foi então construída posteriormente.
Agora a excelente informação do próprio Francisco de Brito Freire, que era também, além de governador, escritor:
“E para habitarem (os indígenas) na vizinha dos nossos, lhes fizemos duas povoações novas, e Igrejas em ambas, com seu modo de governo, nomes e varas de Ouvidores, e de Juízes, entre si mesmos. Porque cometendo algum culpa digna de demonstração para escramentarem os mais, recebam uns, dos outros, o castigo, e só da nossa mão os favores. Batizados, e assistidos do Venerável Padre João Duarte do Sacramento, que pelo imenso fruto de copiosas almas, é assim aclamado do aplauso universal, como Apóstolo do Brasil.”
Esse trecho de História da Guerra Brasílica (de 1675) é uma transcrição feita por Nelson Barbalho (O.b. Cit. p.77-78). As duas povoações citadas são as missões do Limoeiro (hoje a cidade de mesmo nome) e de Ararobá (hoje Cimbres). Brito Freire deixou claro que a construção da igreja de N. S. das Montanhas se deu em sua época. Ora, sabendo que ele foi governador de Pernambuco entre 1662 e 16644, então é muito provável que a igreja primitiva tenha sido construída nessa época! Isso seria a comprovação de um erro em relação ao ano da fundação da missão de Ararobá, que muitos acham (inclusive eu) ter sido em 1669. Em 1665 Brito Freire já não estava mais no Brasil, e sim em Portugal! Essa informação pode render muito ainda, mas ficará para um momento mais oportuno.
Agora sobre a invocação a N. S. das Montanhas.
Primeiramente preciso reconhecer que jamais tinha ouvido falar sobre qualquer lenda referente à invocação da matriz de Cimbres, mas é Pereira da Costa5quem nos conta como segue:
“A construção do templo, e da sua invocação, se prende uma lenda regional, do encontro de uma linda imagem da Virgem, por uma índia, e que levando-a para sua casa, desaparecera, sendo depois encontrada no mesmo local; e que repetido o fato, foi resolvida a construção de uma capela no próprio sítio, o que foi feito, e colocada a imagem no seu altar, assim ficou e se conserva até hoje, vindo daí a sua invocação de N. S. das Montanhas.”
Não sabemos se a imagem do orago da matriz de Cimbres é ainda a original, mas é bastante diferente das de Santa Águeda e N. S. Mães dos Homens, de Pesqueira. Estas são grandes e imponentes, ambas do século XIX. A de Cimbres é simples, delicada e tão pequenina que quase desparece no topo do altar, mas, maior é que qualquer outra quando o assunto é história e tradição.
Marcelo O. N.
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FONTES:
1 COSTA, Francisco Augusto Pereira da. Anais Pernambucanos – Volume 6: . 2.ed. Recife: Fundarpe, 1984. p. 239.
2Pesqueira Histórica – Volume 1. Clube de Autores, 2012.
3BARBALHO, Nelson. Cronologia Pernambucana – Volume 5. FIAM/CEHM. Recife: 1982, p. 77.
4ANTUNES, Cristina. http://www.brasiliana.usp.br/node/354 , acesso em 25/08/2012.
5Ob. cit. p. 239.

Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.