A Velha Igreja de Cimbres: Adendo

Uma leitura mais atenta ao termo da instalação da Vila Real de Cimbres nos permite acrescentar algo à matéria postada sobre a igreja de Nossa Senhora das Montanhas. E com o apoio da obra do historiador Nelson Barbalho, podemos reforçar ainda mais a existência da construção em época remota já como matriz da freguesia.
Foto: Renata Echeverria

No volume 5 de sua Cronologia Pernambucana (FIAM, 1982), Nelson Barbalho faz crítica às afirmações do escritor Alfredo Leite Cavalcanti quanto ao título da primeira freguesia do sertão que, segundo o grande historiador de Garanhuns, teria sido a Freguesia de Santo Antônio, que data de 1700. Ainda segundo Cavalcanti, a criação da Freguesia de Nossa Senhora das montanhas teria sido “em conjunto com a do município de Cimbres, em 1762”. Essa afirmação está contida em História de Garanhuns. No entanto, Barbalho, especialista em história pernambucana, afirma: 

“Apesar de de Alfredo Leite Cavalcanti haver garantido “não haver existido em Cimbres nenhuma freguesia antes do ano de 1761”, renomados  historiadores pernambucanos  dizem o contrário e afirmam que a Freguesia de Nossa Senhora das Montanhas surgiu exatamente  na povoação de MONTE ALEGRE e no ano de 1692.”

Nelson Barbalho apoia-se ainda no Livro da Criação da Vila de Cimbres, que naquela época ainda não tinha sido publicado, por isso examinou o original do valioso documento do Século XVIII, “que não foi pesquisado nem visto pelo saudoso historiador Alfredo Leite Cavalcanti”:

“… em PESQUEIRA, ainda existe o Livro da Criação da Vila de Cimbres, às fls. tantas do qual vem o manuscrito original  da criação da vila cimbrense, datado de 4 de abril de 1762, em cujo texto não há a mínima referência à criação, naquela data, da freguesia de Nossa Senhora das Montanhas, que, àquela altura dos acontecimentos,  já era velha de setenta anos, enquanto a propalada freguesia de Garanhuns, nas mesma data, ainda estaria para nascer.”

Grifo de Nelson Barbalho.

Já no volume 8 da Cronologia Pernambucana (FIAM, 1983), e ainda corrigindo as informações de Alfredo Leite Cavalcanti, o autor diz:

“Não houve criação conjunta da freguesia de Nossa Senhora das Montanhas e da vila de Cimbres. Esta foi criada em 1762, aquela, em 1692. A referida Ata (da criação da Vila de Cimbres) é clara quando registra: “Enquanto à igreja não de presente que promover e se acha uma competente Matriz desta Vila””.
Nelson Barbalho tece ainda sua interpretação: “Dr. Gouveia Alvares já econtrou em MONTE ALEGRE uma sólida igreja-matriz, em pleno funcionamento e sem lhe apresentar problema algum a promover.”
Sobre a autoria da construção, encontramos na mesma obra: 
“… possuindo igreja-matriz erguida por iniciativa  dos padres oratorianos com ajuda de moradores das redondezas, principalmente membros da família NEVES CALDEIRA TORRES GALINDO.”
Grifo de Nelson Barbalho.

As críticas de Barbalho a Alfredo Leite Cavalcanti são justas. Ele fez afirmações equivocadas, carentes de provas, talvez por desconhecer ou não ter examinado em sua época a importante Ata constante no Livro da Criação da Vila de Cimbres, lamentavelmente. No entanto, isso não diminui em nada o brilho do maior historiador de Garanhuns, um homem de grande talento e perseverança, que lutou arduamente por sua cidade e pela preservação de sua história, obra que pode ser comprovada pelo seu História de Garanhuns (CEHM/FIAM, 1997 [2ª edição]).
As divergências entre as informações dos dois grandes historiadores merece um estudo mais aprofundado, o que será feito em momento oportuno. Garanhuns e Cimbres/Pesqueira têm histórias, de certa forma, interligadas no que diz respeito à Capitania de Ararobá.
Para finalizar, fico com a afirmação final de Nelson Barbalho sobre o assunto: Enquanto não forem apresentados elementos que provem o contrário, a Freguesia de Nossa Senhora das Montanhas, com sua velha igreja construída na então Monte Alegre, foi a primeira a aparecer no sertão de Pernambuco.
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Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.